VALE DE ACONCÁGUA, VALE DE CASABLANCA, E PABLO NERUDA, CHILE
05 abr 2018 às 17h47
Nesta minha viagem ao Chile em Fevereiro de 2018, programei visitar vinícolas nas regiões do Vale do Rio Aconcágua, Vale de Casablanca, e a casa do poeta Pablo Neruda em Isla Negra. Alguns turistas brasileiros visitam também o Vale de Colchágua.
VALE DO RIO ACONCÁGUA O nome não tem nada a ver com a maior montanha das Américas, o Aconcágua. A produção de vinho nesta região representa cerca de 3% do total produzido no Chile.
Terroirs e Castas Pelo vale, além do rio, correm alguns riachos provenientes de águas do desgelo. A colheita começa no fim do mês de Fevereiro e vai até o fim de Abril. A Uva Carménère A uva Carménère, muito utilizada no Maipo e Colchágua, tem sido bastante utilizada no Vale de Aconcágua, também.
Hospedagem em Santiago Já me hospedei em Santiago, em três regiões. No centro da cidade, no Hotel Mercure. Desta vez, optei pelo Hotel Solace no bairro da Providência.
Minha intenção era visitar três vinícolas por dia, e almoçar em uma delas. O ideal era que as visitas fossem privadas para colher mais informações para o blog. Como sempre faço, contratei uma agência local especializada, Seasons Travel Spa, que fez todas as reservas e marcações. O atendimento desta agência foi muito bom, Cristiane Ortiz de Oliveira, que nos atendeu o tempo todo, foi tremendamente prestativa. Você pode contratar tours para visitar as vinícolas em grupos. No Chile, o turismo é de alto nível e, independentemente, da escolha dos tours ou agências, com certeza, você será muito bem atendido.
No primeiro dia, programamos visitar a região do Vale do Rio Aconcágua.
Em 1870, Don Maximiano Errazuriz fundou em Panquehue, a Viña Errazuriz. Alguns deles adquiriram projeções políticas importantes no Chile, inclusive um Presidente da República, Eduardo Chadwick. O nome de família foi mudando através das gerações porque, em duas delas, os patriarcas só tiveram filhas mulheres, não preservando o sobrenome dos pais. Fica a aproximadamente 100 quilômetros a noroeste de Santiago.
O tour é tradicional. A guia conta a história da vinícola, um passeio pelos edifícios e depois a degustação. Há um restaurante para almoços, mas só atendem grupos com reserva antecipada. Errazuriz é sem dúvida a mais importante vinícola do Vale do Rio Aconcágua.
El Escorial Originariamente era uma fazenda de propriedade do espanhol Santiago Carey Spinoza, com uma área grande de terras, com diversas culturas. Reformaram as instalações e criaram um espaço para receber visitantes. A casa principal da fazenda passou a ser a sede da vinícola. É uma vinícola familiar, pequena, com produção limitada.
O tour é o tradicional, ou seja, a história da vinícola, um passeio por um viveiro de castas a área industrial, as barricas de carvalho e a degustação. O guia Fernando Bahamóndez é muito simpático e torna o tour muito agradável. Eles oferecem almoço com harmonização dos vinhos. Você pode escolher o cardápio quando da reserva. Há também degustações com tira-gostos. Tudo muito simples e rústico. Quando da nossa visita, pudemos conhecer o agrônomo responsável pelos vinhedos e também pela enologia, Ítalo Montenegro. Foi muito importante para saber sobre o terroir de toda a região e das castas que melhor se adaptaram.
Sanchez de Loria Fica muito próxima da El Escorial. Também pequena e familiar. Fundada em 1890, a vinícola está sob controle da família Sanchez de Loria até hoje. O lugar é simples e muito arborizado. A prensa das uvas é mecânica. Não há tanques de inox. A fermentação é feita em antigos e grandes barris de carvalho. Os barris pequenos, utilizados para fermentar e envelhecer os vinhos, são também antigos, de muitos usos. Mesmo assim, produzem um vinho de muito bom sabor, preço e qualidade. Fomos recepcionados por um dos proprietários, Felipe Cruz Sanchez, que fez uma apresentação da vinícola. Em seguida, fizemos um tour pelos vinhedos.
Juan Manoel Arancibia Araos, funcionário que nos conduziu no tour, foi bastante objetivo em suas explanações e respondeu a todas as perguntas que formulei de terroir, castas, umidade, sol e produção. Quando perguntei se era agrônomo ou enólogo, respondeu que não possuía nenhuma formação universitária. A produção maior é de vinhos tintos com Cabernet Sauvignon, e brancos com Sauvignon Blanc. No entorno das instalações, há um grande viveiro de castas, para utilização de produções experimentais de vinhos. Há cepas de Cabernet Sauvignon, Merlot, Sirah, Carménère, Malbec entre outras. Mais ao fundo, um enorme parreiral de uvas brancas para comer. Apesar da reserva de origem controlada do vinho do Porto, em Portugal, eles produzem um vinho licoroso, com Cabernet Sauvignon, e que no catálogo aparece como Oporto.
Viña San Esteban É uma das importantes vinícolas do Vale de Aconcágua e deve fazer parte de sua programação de visitas. Seus vinhedos ocupam um grande espaço já no entorno da sede principal, e vai até a beira do rio Aconcágua. Uma das atrações é o Parque Arqueológico Paidahuén. É um sitio arqueológico com inscrições e desenhos nas pedras, feitos por antigos nativos. Os símbolos não foram decifrados, mas acreditam terem sido feitos por povos ligados à civilização Inca.
Interessante desta vinícola, é a variedade de terroirs com vinhedos plantados às margens do rio Aconcágua e em cima dos morros. O solo além da argila e pedra, é também arenoso. Fomos muito bem recebidos e conduzidos pela Angelina Morelli, responsável pela recepção dos visitantes. Passeamos pelos vinhedos, pelas instalações industriais, galpão das barricas de carvalho e por último a degustação. Nas paredes, há cerca de 100 quadros com diplomas e premiações de seus vinhos em diversos eventos e países. A marca do vinho é bem conhecida e original, IN SITU. Chamou muito minha atenção o bom gosto dos rótulos. São muito bonitos e atraentes. Produzem diversos vinhos tintos e brancos com as uvas Syrah, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Pinot Noir, Petit Verdot, Sangiovese, Malbec, Chardonnay e Sauvignon Blanc. As principais linhas de vinhos são as premiadas Signature Wines, Private Collection, QV e Laguna del Inca. Os tours de Santiago para a região do Vale de Aconcágua não são diários. Há de conferir com sua agência a programação. Geralmente visitam a Errazuriz e mais duas outras vinícolas.
VALE DE CASABLANCA Fica a cerca de 90 quilômetros de Santiago, pela Rota 68, em direção a Valparaiso. É um vale relativamente pequeno, cercado pelas colinas da Cordilheira da Costa e o Oceano Pacífico. Pelo fato de estar a cerca de 20 quilômetros do mar, sofre influência dos ventos que trazem umidade e maresia. Dependendo da época do ano, os ventos são muitos frios e podem causar o congelamento dos cachos de uva. A amplitude térmica varia muito. A Rota 68 entra no Vale de Casablanca através de um túnel.
Historicamente foi uma região muito ocupada pelos conquistadores espanhóis no passado. O Enoturismo é profissionalizado. A maioria das vinícolas está preparada para receber muitos turistas. Muitas possuem restaurantes e espaços dedicados a quem deseja simplesmente tomar vinho, saborear alguns tira-gostos e jogar conversa fora.
Quando da programação, solicitei que a agência marcasse visitas a três vinícolas, com almoço em uma delas. A agência nos informou que as visitas seriam feitas junto com grupos, ou seja, sem muitas condições de se fazer perguntas mais específicas. Casas del Bosque Imponente, impressiona já na entrada, com uma alameda rodeada de árvores. Fundada em 1993 pela Família Cúneo, originários de Rapallo na Itália. Em 2012, introduziram um Enoturismo de alta qualidade, com atendimento profissional e um ótimo e espaçoso restaurante.
Nós entramos em um grupo em língua espanhola. Antes do nosso tour saíram dois grupos em Inglês, sendo um deles fechado para uma agência. No meio do vinhedo, há vários postes com enormes ventiladores no topo. A finalidade é proteger os vinhedos em noites de geada. O vento frio do Oceano Pacífico, no Inverno, pode congelar os cachos de uva. O resto do tour é igual aos outros. Apesar de ser uma região propícia aos vinhos brancos, estão produzindo ótimos tintos, com as uvas Pinot Noir, Syrah, Carménère e Cabernet Sauvignon. As uvas brancas mais usadas são a Sauvignon Blanc, Chardonnay e Riesling. O espumante é produzido com Chardonnay e Pinot Noir, um ótimo blend.
Como a maioria das outras vinícolas de Casablanca, apesar da Família Matetic ter chegado ao Chile, vinda da Croácia em 1892, somente em 1999, a 4ª geração iniciou a produção e comercialização do vinho. Foram os pioneiros na plantação e utilização da uva Syrah no Chile. Em 2004, decidiram investir forte em Enoturismo com um projeto de arquitetura supermoderno, incluindo o processamento da produção pelo método gravitacional. São três níveis da entrada das uvas até o armazenamento nas barricas. Possuem vinhedos em quatro regiões. Os mais importantes estão nos Vale de Rosário e Santo Antonio, ao sul de Casablanca, a 13 quilômetros do mar. O terroir é bem especial. O solo é arenoso, com uma ótima drenagem. É pobre em nutrientes, mas rico em minerais. Na entrada da propriedade, há um hotel/agroturismo, com um restaurante de nível internacional. Foi o local que a agência escolheu para almoçarmos, e bem. As marcas mais importantes de seus vinhos são Corralillo ( muito conhecida dos chilenos) EQ e Matetic. As uvas para os tintos são Pinot Noir, Carménère e Cabernet Sauvignon. As brancas Sauvignon Blanc e Chardonnay.
Viña INDÓMITA Fica no alto do morro e pode ser vista da Rodovia 68 que vai em direção a Valparaiso. Pertence ao Grupo Familia Bethia desde 2006. Aqui o Enoturismo é o grande negócio. Há uma grande varanda com vista para o vale, com mesas, poltronas e cadeiras, para que o turista possa beber vinho e comer sanduíches e tira-gostos.
Muitos visitantes vão à Indómita para curtir como se fosse um “point”. O tour é o mais simples e fraco de todos. O objetivo mesmo é vender vinhos, artesanato e artefatos ligados à cultura vinífera. A maioria de seus vinhos são produzidos com Cabernet Sauvignon, Carménère, Merlot e Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc. A visita à esta vinícola é ideal para turistas que gostam de curtição, agitação e estão mais interessados em beber vinho, comer alguns tira-gostos e jogar conversa fora. Além destas três grandes vinícolas que visitei, recomendo Loma Larga e Bodegas Re. São muito bonitas e o atendimento é mais personalizado.
PABLO NERUDA – Isla Negra Além dos dois dias que reservei para visitar vinícolas, programei um dia inteiro para conhecer Viña de Mar, Valparaiso e a casa de Pablo Neruda em Isla Negra. Viña del Mar lembra muito o Guarujá em São Paulo, ou Camboriú em Santa Catarina. É um balneário à beira do Pacífico, com várias Faculdades, que torna a cidade também universitária. Há vários hotéis, restaurantes, lojas, muitos prédios residenciais e de veraneio, muito bonitos. Como curiosidade, foi a sede dos três primeiros jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1962. O Brasil sagrou-se Campeão do Mundo, vencendo a Checoslováquia por 3×1 no jogo final em Santiago. Esta Copa é conhecida como a Copa do Garrincha. Valparaíso tem uma história importante. O nome foi dado em 1536, pelo navegador espanhol Diego de Almagro, mas foi o Governador do Chile, Pedro de Valdívia que em 1544, mandou construir o porto de Valparaiso. Foi por este porto que entraram as primeiras mudas de uvas trazidas pelos novos ricos voltando da Europa, no fim século XIX. Com a construção do Canal do Panamá em 1914, a cidade entrou em decadência. O porto continua funcionando, mas já não tem o movimento de antigamente. PABLO NERUDA (12/07/1904 – 23/09/1973) – Isla Negra Indo à Viña del Mar ou Valparaiso, uma das atrações é visitar a casa do poeta Pablo Neruda em Isla Negra, um pequeno povoado à beira-mar. Neruda, poeta chileno, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Foi Adido Cultural na Europa no Governo de Salvador Allende.
A casa onde vivia e onde escreveu muito da sua obra, fica de frente para o mar. É uma casa simples, térrea, com diversas salas, cada uma decorada com um tema. Muitos deles relacionados ao mar. Chamou a atenção que na narrativa gravada nos headphones em nenhum momento falam onde ele e sua última esposa estão enterrados. Ele pediu que, quando morresse, fosse enterrado em uma cova simples, discreta sem identificação. Ao terminar o trajeto dentro da casa, o visitante sai de frente para o mar em uma sacada que parece a proa de um navio. No meio há uma pedra grande e preta sobre um canteiro de flores. Aí está o túmulo de Neruda. Eu notei que as pessoas passam ao lado do canteiro de flores, tiram fotos da paisagem e não se dão conta disto. Preferi atender à recomendação do poeta, e reverenciei-o discretamente.
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