SOBRE UVAS, VINHOS E HISTÓRIA… BUDAPESTE

03 nov 2014 às 17h21

Em Outubro, como faço há mais de 35 anos, viajei para Europa com o objetivo de atender a Feira do Livro de Frankfurt.

Nestas ocasiões aproveito a viagem que é longa e cara para conhecer e curtir outros lugares.

Estive em Budapeste e Praga. Depois, de carro guiei por 3 dias pela Estrada Romantica, que vai de Wurzburg a Fussen . A seguir mais alguns dias em Munich, com direito de subir até o Ninho das Águias, casa de Hitler no alto da montanha entre Alemanha e Austria.

Neste meu blog vou relatar a passagem por Budapeste

BUDAPESTE na Hungria é uma cidade dividida, de um lado Buda, do outro lado Peste, e no meio, o lendário Rio Danubio.

Buda foi fundada no século 4 a.C. e três séculos após, 1 a.C. foi conquistada pelos Romanos.

Os domínios dos Romanos nesta região limitou-se até a esta margem do Danúbio.

Foi neste período que a cultura do vinho foi introduzida.

Peste, começou como um pequeno povoado do outro lado do Rio Danubio e cresceu lentamente.

Pela localização estratégica, propícia à navegação, meio do caminho, entre Eslovaquia, Austria, Alemanha, Servia, e Mar Negro, a cidade de Buda foi alvo de invasões e dominações durante grande parte da sua história.

Primeiros os Romanos, que dominaram por cerca de 200 anos.

Depois os mongóis chefiados por Batu Khan, filho de Gengis Khan.

Em seguida o domínio Otomano, conduzidos pelo Sultão e Califa Suleyman, O Magnífico, responsável por muitas atrocidades .

Foi combatendo a dominação dos turcos que o Principe da Valaquia, hoje Transilvania, Vlad III também conhecido como Vlad Tepes (O Empalador), ou então Vlad Dracul (Filho do Dragão) teve seu nome registrado na historia.

Contam as lendas que ele empalava seus inimigos, expunha seus corpos mutilados e chegava a beber seu sangue.

Foi baseado nesta lenda/história que o irlandês Bram Stoker, que nunca esteve na Transilvania, em 1897 publicou o livro e criou o personagem Drácula.

Após a 2ª Guerra Mundial a Transilvania passou a fazer parte da Romênia.

A partir de 1526 até o fim da 1ª Guerra Mundial em 1918 a dominação foi do Império Austro-Húngaro.

A seguir vieram os nazistas e após a 2ª Guerra Mundial, em 1945, os comunistas.

Se não fosse um blog, eu poderia discorrer um pouco mais sobre estas longas dominações.

A verdade é que a Hungria teve pouco tempo independente.

E ainda hoje há uma dependência relativa da Russia.

Do mesmo modo que temos o Mercosul, a União Europeia, os países que até a queda do muro de Berlim, eram considerados URSS, hoje fazem parte de um bloco econômico liderados pela Russia.

Ela é a grande importadora dos produtos agrícolas da Hungria.

Isto ajuda entender porque a Russia não ficou nada contente com a opção da Ucrania de sair do seu bloco e aderir ao Europeu.

Desde sua fundação, passando por todas dominações a Hungria possui hoje sòmente 1/3 de seu território original. Grande parte de seus territórios foram tomados pela Austria, foram transferidos para Romenia e foram perdidos com a criação da Eslovaquia.

Quem a visitou antes da queda do muro de Berlim, nota claramente a mudança, não só no país como um todo, mas no comportamento das pessoas, mais expansivas e alegres.

Sobre vinhos e uvas, a Hungria junto com Grecia e Turquia são os três únicos países do mundo a não utilizarem a palavra do latim vinum para denominar o vinho. Na Hungria o vinho é chamado de Bor.

Isto se deve em parte pela influencia que teve a dominação Otomana de Suleyman, que inclusive foi responsável pelo seu desenvolvimento, introduzindo castas trazidas de regiões de sua dominação.

Hoje a Hungria é a maior produtora de vinhos do leste europeu, 11ª no mercado mundial, e produz vinhos da mais alta qualidade.

O vinho licoroso Tokaji produzido na região demarcada e considerada Patrimonio da Humanidade, Tokaji-Hegyalja, a noroeste do país, contribui com a maior fatia da produção e exportação.

Ele é produzido com as uvas Furmint, Harslevelu e Muscat.

O Tokaji Aszu é considerado um ícone nacional.

Nos séculos 18 e 19 era já apreciado em toda Europa. O Rei Luiz XIV da França, o chamou de “o rei dos vinhos, o vinho dos reis”.

O Tokaji é citado no Hino Nacional da Hungria, é referenciado na peça teatral “O Fantasma da Ópera”. No filme “Amadeus/ Mozart””, o ator aparece segurando uma garrafa deste vinho.

Na Hungria há o ditado “ não morra antes de experimentar um Tokaji ! ”

Tanto os Espumantes, como os Brancos e Tintos são muito bons.

Utilizam uma variedade grande de castas locais e outras trazidas das regiões mais orientais.

Nos últimos anos, até com a intenção de abrir os mercados para o Ocidente, tem produzido muitos vinhos utilizando as casta Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir e outras bem conhecidas.

Hoje existem 22 regiões produtoras, mas 5 delas com uma força maior.

Estão espalhadas pelo país todo. Não uma concentração em uma só região.

Tanto os Tokaji como os Tintos e Brancos podem ser encontrados em distribuidoras em São Paulo, mas não em grande variedade.

Desta vez não visitei nenhuma vinícolas mas bebi bons vinhos.

Experimentei vinhos Pinot Noir, que não devem nada a um produzido na Borgonha, e um de uma casta oriental, Kardaka, tambem muito bom.

Em três dias voce conhece bem Budapeste. Se quiser visitar vinícolas, voce vai precisar de pelo menos mais dois dias.

Em Budapeste, o ideal é ficar em um hotel do lado de Peste, o lado mais agitado, onde estão localizados os centros comerciais, as lojas, boutiques, bancos e os restaurantes.

Buda, do outro lado do Danubio é a atração maior de turismo por sua história e construções antigas. Tem tambem alguns hotéis internacionais e bons restaurantes. O movimento do lado de Buda é de turistas durante o dia. À noite só há movimento nos restaurantes.

Uma outra atração são os banhos turcos oferecidos em lugares especiais e próprios e alguns antigos hotéis.

Como toda cidade turística existem o City Tours regulares, com aqueles ônibus geralmente vermelhos e azuis, com a parte superior aberta e que passam pelos pontos mais importantes da cidade.

São oferecidos tours para Transilvania, Eslovaquia e arredores.

Há tambem um catamarã que vai de Budapeste a Viena, subindo o Danubio, que leva cerca de seis horas. Eu já fiz esta viagem e é tranqüila.

De todos monumentos históricos existentes, incluindo o dos Heróis da Pátria, há um monumento muito singelo e significativo,denominado “Sapatos a Beira do Danubio”.
 
São pares de sapatos de homens e mulheres, em bronze, a beira do Rio Danubio.

Marca o local onde judeus, que não cabiam nos trens para os Campos de Concentração, conduzidos até ali, eram obrigados a tirar os sapatos, e executados a tiros. Seus corpos desciam rio abaixo.

Vale a pena visitar Budapeste, por sua história, por sua beleza, por sua gente, que apesar de tudo, é um povo alegre, hospitaleiro e hoje, feliz.

Se alguém quiser alguma dica fique à vontade para contatar-me.
miltonassumpcao@terra.com.br

Do lado esquerdo Buda, do lado direito Peste e no meio o lendário Rio Danúbio. Do lado esquerdo a Hungria, do lado direito a Eslováquia, e no meio o Rio Danúbio
   
Transporte de mercadorias pelo Rio Danúbio Monumento Sapatos a Beira do Danúbio

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