MACHU PICCHU, CUZCO, VALE SAGRADO E LIMA… PERU.

26 set 2016 às 13h25

Machu Picchu é o mais importante destino turístico da América do Sul. Sua fama é maior que a de seu próprio País, o Peru. As pessoas quando programam a viagem dizem –Eu vou para Machu Picchu. E ao chegarem descobrem que há também Cuzco, o Vale Sagrado, Ollantaytambo, além da história e cultura dos Incas, que são ricas e devem fazer parte da programação da viagem.

Resolvi escrever sobre a minha viagem porque sei que é o sonho de muita gente, como foi o meu. E mostrar que ao se programar bem, é relativamente fácil e não exige muitos dias.

Estatua do Inca Pachacutec -Águas Calientes Machu Picchu

Um pouco de história

É importante começar falando da história para que você possa acompanhar melhor a descrição da viagem.

A civilização que conhecemos como os Incas, na verdade, eram os Quéchuas, que viviam no altiplano da Cordilheira dos Andes. No início do século XIII, com a união da cultura e dos costumes de dois povos, surgiram os Quéchuas.

O líder dos quéchuas tinha o título de INCA. Ou seja, INCA era um título de liderança, como o Rei, o Imperador.

Esta civilização que durou aproximadamente três séculos foi governada por 16 Incas oficiais e 2 nomeados pelos espanhóis. O primeiro e criador do povo quéchua o legendário Manco Capac. Este povo foi exterminado pelos espanhóis, no século XVI, com a execução do último Inca, Tupac Amaru II.

Não há registros históricos sobre este povo. Tudo que se sabe é proveniente de textos escritos por historiadores espanhóis da época. Foram eles que passaram a referir-se aos quéchuas como sendo os Incas.

Do início dos anos 1200 até 1438, os Incas dominaram um território no altiplano do Andes, com o poder central em Cuzco, a 3.400 metros acima do nível do mar.

De 1438 a 1471, governou o nono e mais importante dos Incas, Pachacuti ou Pachacutec. Junto com seu filho Tupac Yupangui estenderam a dominação do Equador até o Chile. A estratégia da anexação dos territórios passava pelo alto nível de conhecimento de agricultura que possuíam. A primeira abordagem a outros povos era sempre política, quando prometiam facilitar a obtenção de alimentos. Em uma segunda etapa, ofereciam uma de suas filhas ou uma jovem da nobreza para desposar o outro líder, e assim consolidar a anexação. Caso isso não funcionasse, a dominação era pela força.

Quando um povo aceitava a dominação Inca, o líder deste povo tornava-se um parceiro e continuava a liderar sua gente.

Os Incas tinham uma índole pacífica.

Seus Deuses eram ligados à natureza. Pacha Mama – Mãe Terra ou Mãe Natureza – era a maior divindade. O cultivo dos alimentos – principalmente batatas, cevada, milho, quinoa e chá – era a base da agricultura. O Sol, a Lua, as estrelas eram também muito cultuados pelas informações das estações do ano, do equinócio, do solstício, importantes para a agricultura.

Era o Inca que dominava os conhecimentos e os segredos da agricultura. Era ele e alguns colaboradores fiéis e próximos que sabiam interpretar o movimento dos astros, anunciando as estações e o clima. A língua falada por todos era a quéchua, no entanto, para que mantivessem estes segredos, o Inca e os nobres utilizavam um dialeto próprio.

Todas as pessoas tinham direitos aos alimentos que eram produzidos. Eram o Inca e seus colaboradores responsáveis pela produção e distribuição. A dominação era exercida basicamente por estes conhecimentos e pela garantia do fornecimento do alimento. Todas as pessoas a partir de uma certa idade eram obrigadas a se dedicar e trabalhar durante um período do ano, para a produção dos alimentos. Havia um escalonamento que fazia com que sempre houvesse trabalhadores colaborando para um bem comum.

Representação dos 18 Incas Celebração e representação em Cuzco

A Chegada dos Espanhóis

Os espanhóis começaram a dominação pelo México e América Central. Estabeleceram uma importante base no Panamá, e daí saíram para a dominação da América do Sul.

Francisco Pizarro, natural da Extremadura, na Espanha, veio para a América Central trazido por Hernan Cortés. Por volta de 1530, teve autorização para explorar lugares na América do Sul, onde diziam haver muita riqueza. Quando chegou com um pequeno grupo de soldados e cavalos em Lima, ficou maravilhado com os objetos de ouro e prata que os nativos ostentavam. Tomou conhecimento de que havia no alto dos Andes uma cidade com edifícios adornados com ouro e prata, onde vivia o grande líder deste povo. Ambicioso, marchou em direção a Cuzco.

Os Incas tinham uma lenda de que os Deuses iriam chegar vestidos com roupas de gala. Quando Pizarro chegou com seus soldados, com armaduras, elmos e cavalos, pensaram que eram os Deuses e foram muito amistosos.

Com a confirmação da existência de muita riqueza, de ouro e prata em abundância, em pouco tempo Pizarro mandou vir vários contingentes de soldados para dar suporte e estabelecer a dominação.

Quadros de Francisco Pizzarro

Os Últimos Incas e o Extermínio de um Povo

Com a descoberta de ouro, prata e muitos alimentos, a Espanha decidiu estabelecer em Lima um Vice-Reinado, de onde podia controlar todos os seus territórios. A cidade de Cuzco, e toda a região andina ao seu redor, passou a ter uma importância fundamental.

No início, os espanhóis trataram os Incas como parceiros, respeitando sua cultura e tradições. Com o fortalecimento do contingente militar, iniciaram um processo de dominação e implantação da cultura espanhola.

Percebendo o que estava ocorrendo, o Inca Atahualpa iniciou uma resistência e conseguiu juntar cerca de 80.000 guerreiros. Os espanhóis eram em número menor, mas tinham as armas e os cavalos.

Francisco Pizarro, ardiloso e estratégico, armou uma emboscada. Convida Atahualpa para um jantar, com o objetivo de celebrar a paz. O Inca chegou com uma comitiva pequena de guerreiros e foi surpreendido e aprisionado.

Para sua libertação Atahualpa ofereceu a Pizarro uma quantidade de ouro e prata que coubesse na cela da sua prisão. Pizarro estava com tendência de aceitar, mas por ordens superiores e, principalmente, pela importância estratégica de eliminar o grande líder, decidiram executá-lo.

No dia 16 de Novembro de 1532, Atahualpa, o 13º Inca, o último a governar em Cuzco, foi executado em praça pública. Ele iria ser queimado vivo e no último momento foi convencido por um Padre a se batizar cristão, e a pena de morte foi convertida para enforcamento por garrote.

A partir, daí os espanhóis nomearam dois Incas, irmãos de Atahualpa, que não foram reconhecidos como líderes pelo povo. A partir de 1537, os Incas formaram uma resistência, primeiro em Ollantaytambo e depois em Vilcabamba.Um líder emergiu sob o nome de Manco Inca, em homenagem ao lendário Manco Capac. De 1570 a 1581, a resistência dos Incas foi conduzida por Tupac Amaru I e por Tupac Amaru II, que acabaram sendo os últimos líderes. Em 1581, Tupac Amaru II foi executado em praça pública, em Cuzco, junto com sua esposa, filhos e principais colaboradores.

Durante os anos 1960, um grupo de guerrilheiros do Uruguai criou uma facção com o nome de Tupamaros, homenageando os dois Tupac Amaru, heróis da resistência Inca.

Os espanhóis trataram de eliminar toda a cultura quéchua. O povo e sua língua passaram a ser tratados com inferioridade. Aos poucos, o aculturamento espanhol ocorreu normalmente, os edifícios, inclusive os religiosos, foram tomados e a resistência se acabou. Várias ordens religiosas cristãs se instalaram na cidade.

Durante muito tempo falar a língua quéchua era sinal de que a pessoa vinha de um nível inferior. A língua, no entanto, foi preservada pelos nativos e passou através das gerações. Hoje, poucas pessoas falam quéchua, mas há uma nova tendência de recuperar e valorizar. Os Incas não dominavam a escrita e não criaram um alfabeto. Há vários desenhos e símbolos que foram reproduzidos principalmente nos vestuários que estão sendo objetos de estudos.

Cuzco – Vale Sagrado – Ollantaytambo – Machu Picchu

Ao programar sua viagem para Machu Picchu, é importante levar em consideração incluir na programação lugares históricos e religiosos importantes da civilização Inca.

Cuzco
Fundada possivelmente entre os séculos XI e XII, foi o local escolhido pelo primeiro Inca Manco Capac, no século XIII, para ser a sede do povo quéchua. Foi durante três séculos a capital da civilização Inca. Está situada a 3.400 metros de altitude.

A Plaza de las Armas é uma das atrações da cidade. No centro, há uma grande estátua do Inca Pachacutec. À sua volta, estão importantes edifícios históricos, museus, a catedral, vários restaurantes e lojas. Nesta praça foi executado o último dos Incas Tupac Amaru II.

A cidade é dividida em duas partes, a histórica e a moderna. Na parte histórica, está ainda muito bem conservado o edifício Qoricancha que, segundo a lenda, foi desenhado pelo Inca Pachacutec e era onde estava centralizado todo o poder político e religioso. Depois da invasão dos espanhóis, foi transformado em convento religioso cristão.

Nos arredores de Cuzco, no alto da colina, estão as ruínas de Sacsayhuaman, o Templo do Sol e os altares de sacrifício de animais e crianças. Quando queriam agradar aos Deuses, principalmente nos períodos de secas ou de pouca produção agrícola, além de animais, sacrificavam um menino perfeito. Ele era conduzido pelos sacerdotes em uma procissão até o topo da colina. Ele não podia chorar ou se lamentar. Quando isso acontecia, e era na maioria das vezes, davam-lhe uma bebida para adormecer.

Eu recomendo programar dois dias inteiros para Cuzco. Sobre a questão da dificuldade de respirar a 3.400 metros de altitude, vou abordar mais à frente quando contar sobre a minha viagem.

Plaza de las Armas Nativos com roupas típicas

Estátua de Pachacutec no centro da praça


Chinceros – Moray – Salinas de Maras

Saindo de Cuzco em direção ao Vale Sagrado, que fica a 80 quilômetros aproximadamente, há algumas atrações que são imperdíveis.

Chinceros é uma cidade pequena que conserva muito a tradição quéchua. A principal atração é uma fabrica artesanal de tapetes e rendas. Os turistas podem acompanhar o trabalho das tecelãs, com uma demonstração de onde se obtém e são extraídas as cores utilizadas nos tecidos.

Demonstração das cores Demonstração das tecelãs

No caminho de Moray, a uma altitude de 3.800 metros, a estrada passa por campos de plantações de cevada, trigo e quinoa. Ao fundo, a Cordilheira dos Andes com seus picos nevados a 6.000 metros de altitude formam um contraste belíssimo.

Campos de cevadas a 3.800 de altitude Ao fundo a Cordilheira dos Andes a 6.000 metros de altitude

Moray, para mim foi uma das descobertas mais surpreendentes. Os espanhóis quando se apoderaram das riquezas, não prestaram muita atenção, ou os próprios Incas talvez tenham escondido este lugar. Quando das escavações, os arqueólogos pensaram tratar-sede altares religiosos. Os estudos mostraram depois que se tratava de um laboratório de desenvolvimento e obtenção de sementes de cereais.

São grandes buracos em forma circular,com degraus em níveis decrescentes. Cada degrau, cada nível, representava uma diferença de temperatura de 1°C. O desenvolvimento era feito da seguinte maneira: o último degrau, o mais alto, representava a altitude local, ou seja 3.500 metros do nível do mar. Ali eram plantadas diversos tipos de batatas e cereais, como cevada, quinoa e milho. Dois anos depois, as sementes obtidas eram replantadas, no degrau abaixo que representava uma altitude de 2.500 metros, para adaptação. Após outros dois anos, as sementes obtidas na altitude de 2.500 metros eram replantadas, no degrau abaixo que representava a altitude de 1.800 metros, de novo para adaptação e assim sucessivamente até chegarem ao nível do mar.

Quando os Incas dominavam ou aculturavam uma nova tribo, as sementes fornecidas para plantio eram aquelas obtidas no degrau correspondente à altitude onde habitava esta nova tribo. E a adaptação era perfeita. Há pouco tempo, pesquisadores americanos que estão armazenando sementes de todos os alimentos do mundo, descobriram, no Peru, o cultivo de quinoa ao nível do mar. O que comprova o sucesso do projeto incaico de adaptação e climatização das sementes dos cereais.

Moray é chamado e considerado o Umbigo do Mundo.

Laboratórios agrícolas O ultimo círculo abaixo, representava à nível do mar

Salinas de Maras
Ficam relativamente próximas de Moray. Na altitude de 3.500 metros, uma montanha inteira de sal, recoberta de vegetação natural, com um pequeno riacho de água muito salgada, que alimenta 4.000 tanques/poças. Cada tanque produz cerca de 300 quilos de sal por mês. O sistema, que vem da época dos Incas, é comunitário entre famílias. Cada família tem os direitos sobre 40 tanques. A produção é individual, e a comercialização é em forma de cooperativa. O sal produzido é direcionado para a alimentação, para fins medicinais e banhos. Os maiores clientes são os orientais, japoneses e chineses.

No local, há diversas lojas com uma variedade grande de produtos que levam sal. Os sais para banhos e as bananinhas secas salgadas são compras obrigatórias.

4.000 tanques na encosta da montanha. O veio de água que alimenta os tanques

Urubamba é uma cidade mais moderna, que fica ao pé do altiplano a 2.790 metros do nível do mar e é banhada pelo rio do mesmo nome, Rio Urubamba. Com várias opções de bons hotéis e restaurantes, é onde tem início o Vale Sagrado dos Incas. É também de onde sai o trem para Aguas Calientes e Machu Picchu. Muitas agências preferem colocar os turistas nos hotéis de Urubamba, e de lá saírem para os passeios.

O Rio Urubamba nasce na Cordilheira Vilcanota, segue com este nome até chegar na cidade de Urubamba, passa por Ollantaytambo e segue até Aguas Calientes, formando o Vale Sagrado. Com muita correnteza e pedras, desce de uma altitude de 2.790 metros em Urubamba até 2.100 em Aguas Calientes, já dentro da Floresta Amazônica. Seguindo encontra o Rio Tombo e formam o Rio Ucayali. O Ucayali corre por 724 quilômetros até Puerto Atalaya e muda de nome para Amazonas. Oficialmente é onde começa o Rio Amazonas. Na fronteira com o Brasil, em Tabatinga, muda de nome para Solimões, e em Manaus quando encontra o Rio Negro, volta a chamar Amazonas. De Tabatinga até a foz, ou seja, no território brasileiro, o rio tem 1.700 quilômetros.

Rio Urubamba em Ollantaytambo Vale Sagrado e o rio Urubamba

Ollantaytambo é a cidade histórica mais importante do Vale Sagrado. Está situada ao lado de Urubamba. É a única cidade da era Inca ainda habitada pelos descendentes da nobreza. Construída por Pachacutec para ser um centro militar, administrativo, religioso e observatório dos astros. Era chamada de Fortaleza em virtude da altura de seus muros e servia de alojamento militar (tambo) para proteção do Vale Sagrado. Pachacutec utilizava como Palácio Real e estudos da movimentação dos astros para fins da agricultura. A cidade mantém ainda diversas construções, palácios e principalmente o sistema de captação de água. A água que vem das montanhas corre ainda em canais pela cidade e nas ruínas dos edifícios incaicos. No início do domínio espanhol, foi o primeiro centro de resistência dos Incas.

Canais de água corrente na cidade Água corrente no Templo do Sol

O Templo do Sol é uma construção magnífica levando-se em consideração como foi projetado e construído com pedras enormes, monólitos trazidos de longe. O curioso é que as pedras que utilizaram para construção vieram de algum lugar não identificado, e são enormes, deixando no ar como foram transportadas e levadas até o alto. O Templo foi construído tendo a sua frente uma grande montanha, e de frente para o sol. Quando o sol nascia, dependendo de onde ele surgia atrás desta montanha, o Inca podia saber qual a época do ano. Os raios eram refletidos em um grande painel de pedra que ajudava a identificar as estações do ano. Este era um conhecimento que somente o Inca e alguns colaboradores fiéis dominavam. O domínio do Inca sobre seu povo era estabelecido pelo conhecimento.

Sol da manhã refletindo no painel no Solstício de Inverno – 21 de Junho Painel onde reflete o sol

Solstício de Verão – a sombra se encaixa no vão da pedra Templo do Sol com degraus para plantio

Nesta montanha que servia de base para identificar o nascer do sol, há uma construção no alto, que pensavam se tratar de uma prisão. Posteriormente, descobriram que eram silos de alimentos. Ficava no alto para que, em dias quentes, o vento constante refrescasse o lugar. Há também nesta montanha, o desenho de um rosto, esculpido em uma de suas laterais, causado pela movimentação de rochas após um terremoto.

Dependendo de onde o sol nascia atrás desta montanha sabiam das estações do ano Sol da manhã no Solstício de Inverno

Nascer do sol no Equinócio da Primavera – 21 de Setembro As Pleyades no amanhecer do Solstício de Inverno – 21 de Junho

A cidade tem vários pequenos hotéis, pousadas e restaurantes de comida crioula. O trem para Aguas Calientes faz uma parada na estação da cidade. De Ollantaytambo, sai uma Trilha Inca de 8 dias e 7 noites para Machu Picchu.

Muitos turistas preferem se hospedar em Ollantaytambo ou Urubamba e de lá saírem para visitar as atrações do Vale Sagrado e Machu Picchu.


Aguas Calientes
tem este nome porque é um lugar de águas quentes termais. Fica situada à margem do Rio Urubamba, a 2.100 metros do nível do mar. Foi originariamente um acampamento de trabalhadores para construção de uma ferrovia. A cidade fica espremida entre montanhas, já na umidade da mata amazônica e se olharmos para cima, quase não se vê o céu. A região é muito úmida, com muita chuva.

Em Aguas Calientes fica a estação final do trem que vem de Urubamba e Ollantaytambo trazendo os turistas, e é de onde saem os ônibus para levá-los até Machu Picchu. Somente os ônibus autorizados sobem a serra. Alguns aventureiros sobem a pé.

A cidade é muito pequena, com alguns hotéis, pousadas, restaurantes e muitas lojas de artesanato.

Estação de Urubamba O trem é bem confortável

Machu Picchu está a 2.438 metros de altitude, ou seja, abaixo de Ollantaytambo e Urubamba que estão a 2.790 metros e Cuzco a 3.500 metros do nível do mar.

A história da sua origem, construção e descoberta é muito controversa. Não se sabe quando e quem construiu, e há três teorias:

– Teria sido um local onde o Inca, seus familiares e principais colaboradores ,vindos de Cuzco e Ollantaytambo, utilizavam para descanso e veraneio.

-Era um centro de estudos de astronomia, interpretação dos movimentos do Sol, da Lua e das estrelas, para aplicação na agricultura. O objetivo era preparar jovens da nobreza Inca. Era também o lugar onde melhor se comunicavam com os Deuses, através do Condor, uma ave de rapina dos Andes que voa muito alto. Eles acreditavam que a ave pudesse levar aos Deuses suas preces e pedidos. Deixavam em um lugar determinado, uma espécie de templo, restos de animais para atraí-lo, e os pedidos de proteção.

– Segundo a terceira teoria, era simplesmente um ponto de parada de viajantes que transitavam pela Mata Atlântica. As construções mostram claramente um prédio central e várias salas, que poderiam ser quartos individuais, parecendo uma espécie de pousada, ou então, aposentos individuais de estudantes, da teoria anterior.

Rio Urubamba por entre as montanhas Machu Picchu e a Huayna Picchu

Antes da sua “descoberta” oficial em 1911, entre os anos de 1867 e 1870 o alemão Augusto Berns, ligado à empresa que construía a ferrovia, explorou o local. Com autorização do governo peruano, vendeu a colecionadores americanos e europeus objetos e relíquias encontrados. E em contrapartida repassava ao governo peruano parte do lucro.

Em 1874, o alemão Herman Gohring localizou e desenhou as ruínas da cidade perdida em um mapa na época.

Em 24 de Julho de 1911, professor da Universidade Yale, Hiram Bingham, explorava a região em busca da mítica Vilcabamba, lugar da resistência Inca aos espanhóis. Subindo o Rio Urubamba, foi informado pelo campesino Melchior Arteaga da existência das ruínas de uma cidade Inca, no topo da montanha. O lugar estava todo coberto de vegetação. Era habitado por duas famílias, que plantavam milho e criavam cabras. Um dos filhos do casal conduziu e apresentou as ruínas ao pesquisador.

Bingham registrou em seu diário: Would anyone beleive what I have found?

Bingham voltou a Yale e fez um relato da descoberta e conseguiu uma grande verba de pesquisa para explorar o local. Em 1912, com a autorização do governo peruano, retornou com um grupo de arqueólogos e colaboradores. O local estava todo coberto pelo mato; e a maioria dos prédios, destruída pelo tempo. No local, foram encontrados vasos, objetos de bronze, cobre, prata e cerâmicas, que identificavam a época. Após anos de trabalho, a vegetação que cobria as ruínas foi removida e as construções, restauradas.

Prédio e alojamentos Degraus para plantio

O turismo ainda levou um certo tempo para ser incrementado, principalmente pelas dificuldades de acesso. Aos poucos, foi ganhando corpo, sendo a cidade visitada por pessoas ligadas a religiosidade, esoterismo e espiritualidade. Foi quando o governo peruano viu uma grande oportunidade e decidiu investir, construindo a ferrovia de Urubamba a Aguas Calientes. A imagem de esoterismo e espiritualidade foi bastante focada em seu marketing de turismo e Machu Picchu se tornou o mais importante destino turístico da América do Sul.

Visitar Machu Picchu é realizar um sonho!


Programando a Viagem

Há 3 maneiras de ir para Cuzco, Vale Sagrado e Machu Picchu. De avião para Lima e fazendo uma conexão direta para Cuzco.

Pela Bolívia, saindo através de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, do outro lado da fronteira, em Puerto Quijarro, pegar o famoso Trem da Morte para Santa Cruz de La Sierra. De lá, seguir de ônibus até a cidade de Copacabana, na margem do Lago Titicaca. Atravessar de balsa até Puno, já no Peru, e de lá seguir de ônibus até Cuzco ou Urubamba. Leva no mínimo 3 dias.

A terceira via é pelo Acre. Saindo de Rio Branco, de carro até Porto Maldonado já no Peru, e de lá, por uma espécie de transamazônica, chegar em Cuzco. São dois dias de viagem e muita aventura.

Eu fui com minha esposa Ruth pela mais fácil, de avião, via Lima. No aeroporto de Lima, como havia um tempo para a conexão, fomos caminhar e em uma loja, a vendedora perguntou se estávamos indo para Cuzco e se já tínhamos tomado o chá de coca.

Não? Vocês vão sentir falta de ar, chupem pelo menos algumas pastilhas de coca. Pensamos sinceramente que ela estava querendo só vender. Mesmo assim compramos e decidimos chupar uma na saída e outra na chegada. Ao desembarcar no aeroporto de Cuzco, no caminho de pegar as malas, já sentimos o mal-estar. O choque é incrivelmente forte. No hotel, já no check-in, nos ofereceram uma xícara do chá de coca e recomendaram que, em Cuzco, é necessário beber de 3 a 4 xícaras do chá por dia e muita água. Todo o tempo que ficamos em Cuzco, sentimos a diferença. Durante a noite, a gente acorda com a boca seca e tem de beber água. Os movimentos ficam lentos e cansativos.


Programação dos Passeios

Nossa programação foi ficar 4 dias e 3 noites em Cuzco e de lá sair para visitar o Vale Sagrado e Machu Picchu. Como tinha o objetivo de escrever este texto para o blog contratei um tour privado, com uma guia com muito conhecimento em história. Recomendo sem dúvida a www.colturperu.com .

Ficamos hospedados no centro de Cuzco, a duas quadras da Plaza de Las Armas, no Belmond Hotel Monasterio. Na cidade, há vários bons hotéis de nível internacional. Minha recomendação é ficar em um deles próximo da praça central. As agências que promovem os tours oferecem preços especiais, às vezes mais baratos que diretamente através da Internet. Eu recomendo ir com uma programação já contratada de tours, privado ou em grupos, que inclua o hotel. Há várias opções de hotéis e pousadas mais econômicas, para todos os bolsos.

No primeiro dia, visitamos as atrações em Cuzco, o palácio Qoricancha, no centro da cidade, e as ruínas de Sacsayhuaman, com seu altar de sacrifícios em uma colina próxima. Na parte da tarde, visitamos a catedral, Igreja da Sagrada Família, e o museu Inca. Neste último, o guia local fez uma ótima narrativa da história dos Incas.

Ruínas de Sacsayhuaman Altar de sacrifícios de animais e meninos

Palácio Qoricancha – sala do Sol Muros com encaixes perfeitos

No segundo dia, saímos cedo de Cuzco, de carro direto para a estação do trem em Urubamba. Este trecho de carro leva cerca de uma hora. A viagem até Aguas Calientes leva cerca de duas horas. O trem pára na estação de Ollantaytambo, para a entrada dos turistas que se hospedaram ali. Depois pára novamente no quilometro 104. Ali descem pessoas que vão fazer a Trilha Inca de 1 dia e 1 noite.

O trem margeia todo o tempo o Rio Urubamba. No trajeto, é nítida e clara a mudança da vegetação de altitude para a mata amazônica.

Na estação de Aguas Calientes estava nos esperando um guia local, também com ótimos conhecimentos da história Inca.

Os ônibus que sobem até Machu Picchu saem um em seguida ao outro, assim que os lugares são completados. A estrada em aclive é cheia de curvas, sem guardrail, mas sobem com cuidado e passa uma certa segurança. O caminho e a vista são lindos.

Chegar a Machu Picchu é um sonho. É muito emocionante quando a gente vê pela primeira vez as ruínas.

Durante três horas percorremos todos os locais, ouvindo as histórias e as explicações do guia e tirando fotos.

Observatórios astronômicos Altar de oferendas e sacrifícios

Maquete de Machu Picchu Um alojamento individual

O Templo do Condor Pássaro chocando

A montanha de Huayna Picchu com 2.720 metros de altitude, é uma das atrações. Nas fotos ela aparece imponente compondo o cenário lindo do lugar. Há uma trilha para subir até o topo. São autorizados 400 pessoas por dia, 200 no horário das 7h00 e outras 200 pessoas no horário da 10h00. A preferência é pelo horário das 10h00 porque muitas vezes há nevoeiro no topo e quem sobe não consegue ver as ruínas do alto. Durante os dias chuvosos e com nevoeiros intensos a subida não é permitida. Dizem que a vista de lá de cima é muito bonita. Por outro lado tem que subir com muito cuidado porque a trilha é rústica, com degraus muito pequenos e íngremes e requer muito cuidado, principalmente na descida. Sem pressa, o tempo para subir e descer é de 2:30. Se for fazer a trilha é importante pernoitar em Águas Calientes. Como a minha programação em Machu Picchu era de um dia, preferi utilizar mais meu tempo para caminhar e conhecer as ruínas. Se tiverem duvidas sobre subir ou não, entre no Google e há vários depoimentos sobre pessoas que subiram.

Machu Picchu e a Huayna Picchu

Almoçamos, mais tarde, em um restaurante self service lá no alto, voltamos de ônibus, passeamos um pouco por Aguas Calientes. Compramos algumas lembranças, pegamos o trem, o carro em Urubamba e voltamos para Cuzco já perto das 22 horas. Foi um dia puxado.

O terceiro dia foi dedicado a Chinceros, onde visitamos a fábrica artesanal de tapetes, acompanhando o trabalho das artesãs e a demonstração das origens das cores aplicadas nos trabalhos. Os preços dos tapetes são melhores que em Cuzco.

Em Moray, visitamos o laboratório agrícola e adaptação de sementes.

Nas Salinas de Maras, passeamos por entre tanques, provamos a água salgada do riacho e compramos sais medicinais.

Ollantaytambo foi onde dedicamos a maior parte do dia, subindo as escadarias do Templo do Sol e passeando por todo o local.

No caminho, passamos por um altiplano extenso com plantações de cevada e de quinoa a 3.800 metros de altitude. O lugar é mesmo muito lindo. O contraste da Cordilheira dos Andes com seus picos nevados a 6.000 metros de altitude com os campos de cereais é exuberante.

Picos nevados da Cordilheira dos Andes Pastores de ovelhas a 3.800 metros de altitude

Plantação de quinoa no altiplano Campos de milho e cevada

Nesta nossa viagem, fixamos nossa base em Cuzco, dormimos ali 4 noites e de lá saímos para os passeios.

Uma sugestão que eu daria – e que, se eu voltar, vou fazer – é: chegar de avião em Cuzco e já descer para Urubamba. Ficar em um hotel por 3 noites e de lá sair para visitar Moray, Salinas, Vale Sagrado, Ollantaytambo, Aguas Calientes e Machu Picchu. Todas essas atrações ficam mais próximas de Urubamba, do que de Cuzco. Conta com ótimos hotéis e restaurantes. Inclusive, como a altitude é de 2.790 metros, sente-se menos mal-estar comparativamente a Cuzco, que está a 3.400 metros.

Após fazer todos os passeios do Vale Sagrado, subir então para Cuzco. Eu recomendaria dois dias inteiros para conhecer Cuzco.

Continuando, voltamos de avião para Lima onde ficamos dois dias.

Lima, capital do Peru, foi a sede do Vice-Reinado da Espanha durante a dominação dos espanhóis, e foi libertada pelo general argentino San Martin em 1821.

Restam poucas referências históricas desta época.

É uma cidade grande, com um bom centro comercial, lojas e restaurantes.

Recomendo fazer um tour para conhecer o centro histórico. Umas das atrações são às catacumbas no subsolo da catedral, que são realmente assustadoras pela quantidade de ossos humanos expostos. O ar lá dentro é úmido e pesado.

Não deixe de conferir o altar onde está sepultado Francisco Pizarro. Foi morto em 26 de Junho de 1541, pelo também espanhol Diego de Almagro em uma disputa pelo poder. Seus restos mortais foram recentemente encontrados e identificados quando da reforma da catedral.

Em Lima, ficamos hospedados na região do Molecom, onde estão os melhores hotéis e é bem próximo do centro comercial. Dá para ir caminhando.

Na cidade há duas pirâmides pré-Inca, Huaca Huallamanca e Huaca Pucillana. Depois de visitar Cuzco, Ollantaytambo e Machu Picchu, estas duas pirâmides têm um impacto bem menor. Na Huaca Pucillana, há um bom restaurante de comida local e crioula, com vistas para a pirâmide.

Pirâmide Huaca Puccilana Túmulo de Francisco Pizarro

Como disse no início, é uma viagem dos sonhos. Não é preciso muitos dias, e é relativamente fácil de fazer. É preciso alguns cuidados. Nos lugares a serem visitados há sempre muitas escadarias, íngremes que requerem um certo esforço físico. Há também o problema da falta de ar, principalmente em Cuzco. O chá de coca é uma bebida natural como qualquer outro. Em Cuzco no café da manhã do hotel e nos restaurantes é oferecido normalmente junto com os outros chás. A recomendação é que bebamos 4 xícaras de chá por dia e muita água. Evitar bebidas alcoólicas e carne vermelha. Há uma variedade muito boa de peixes, frutos do mar, frutas e legumes. Os lugares são lindos. Se for sabendo da história do Incas, vai aproveitar mais. Uma civilização de pouco mais de 300 anos, mas que deixou marcas profundas nos povos andinos.

Estou à disposição para dicas ou recomendações: miltonassumpcao@terra.com.br

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