SOBRE UVAS, VINHOS, HISTÓRIA E TRUFAS… BAROLO… PIEMONTE… ITÁLIA
03 dez 2015 às 10h45
Barolo é uma pequena cidade, quase uma vila, rodeada de vinhedos e de outras dez, também pequenas cidades que produzem o vinho Barolo.
Coube a ela, por razões históricas, estabelecer o nome, a marca do vinho.
O vinho Barolo é produzido 100% com a uva nebbiolo, e identifica-se com o Brunello de Montalcino, na Toscana, que é 100% sangiovese e com os vinhos da Borgonha que são 100% produzidos com o Pinot Noir.
Depois de Châteuaneuf-du-Pape, Provence, Sul da França, que nos tomou sete dias, seguimos para a região do Barolo.
Saímos de Mônaco de manhã, pela estrada beira-mar, seguimos para Ventimiglia e em San Remo, subimos para a rodovia A10 em direção à Savona.
Em Savona começa a Rodovia A6, que sobe para o norte em direção a Torino.
Na altura de Cuneo/Mondovi, saindo à direita, vai dar na região do Langhe, onde começam os vinhedos.
De Mônaco à região do Barolo, sem pressa, leva três horas.
A região pertence à Comuni di Piemonte, Provincia di Cuneo.
Se colocar no GPS, vai aparecer Barolo (Cuneo).
Alba é maior cidade da região, e é também a capital da Trufa Branca – Tartufo Bianco.
De 10 de outubro a 15 de novembro, a cidade recebe negociantes e turistas do mundo inteiro, para a Feira Internacional da Trufa Branca.
Ela funciona somente nos fins de semana, sexta, sábado e domingo.
Nesse período,os hotéis ficam lotados.
TRUFA BRANCA – TARTUFO BIANCO
É um tubérculo, um fungo que cresce debaixo da terra, nos bosques e campos úmidos, ao redor de Alba.
É utilizado como tempero, ralado ou em fatias finas sobre carnes, massas e outros pratos.
Tem um aroma muito forte, lembra alho, queijo, ervas, especiarias, levemente picante e altamente saboroso.
No período da Feira, os restaurantes da cidade e região incluem em seus cardápios vários pratos com esta iguaria.
Como a trufa tem um aroma forte, os especialistas recomendam para harmonizar um vinho branco.
Os famosos caçadores de trufas são chamados de trifolaos.
Cada um tem uma região demarcada, que é respeitada pelo concorrente.
Como caçam há vários anos, já sabem onde procurar.
A caça é feita sempre à noite, com um cão farejador branco, geralmente um vira-lata,
sem qualquer luz ou lanterna, para não atrair atenção.
O cão é branco para que o trifolao possa vê-lo no escuro.
São esses caçadores que alimentam todo o mercado de trufas de Alba.
A trufa branca em outubro estava sendo vendida a € 300 cada 100 gramas.
Há também disponível, a trufa negra, de menor qualidade e menor preço.
No período da Feira, há um tour especial para caçar trufas brancas à noite.
Tive a oportunidade de, no jantar, comer uma massa com fatias finas de trufa branca.
É mesmo muito saborosa.
Feira internacional da Trufa Branca em Alba |
Você pode chegar a Alba pelo norte, vindo de Torino e Milão ou pelo sul de Savona e Gênova, como fizemos.
Há uma outra opção vindo de Grenoble na França, pelos Alpes. A estrada, no entanto, além de ter muitas curvas e túneis, depende do tempo. No inverno, com neve, é mais difícil.
TRÊS REGIÕES DE VINHO
Muitos de nós conhecemos a região como a do vinho Barolo, no entanto, são três regiões distintas, produtoras de vinhos: BAROLO, BARBARESCO E ROERO.
As três regiões produzem vinho de ótima qualidade.
BAROLO é a mais conhecida mundialmente.
A região de BARBARESCO não é tão conhecida, mas gradativamente vai marcando posições no mercado da Itália e do mundo. Seus vinhos são de ótima qualidade e preços menores que o Barolo.
Na carta de vinhos dos restaurantes locais, a oferta de Barbaresco é maior que a do Barolo.
A região de ROERO,que fica ao norte de Alba, é mais reconhecida pela produção de pêssegos, vinhos brancos e espumantes.
Recentemente, iniciaram a produção de vinho tinto.
Acredito que em pouco tempo as regiões de Barbaresco e Roero vão ficar mais conhecidas.
Estão trabalhando forte na promoção e marketing.
Regiões demarcadas, acima Roero, ao lado direito Barbaresco,abaixo Barolo. Alba fica no centro das 3 regiões. |
BAROLO
A região do Barolo fica ao sul de Alba,e é toda montanhosa. Os antigos moradores passaram a chamá-la de Langhe, porque lembrava o formato de uma língua.
A região é composta de onze cidades.
Somente vinhedos localizados nessas onze cidades podem produzir o vinho Barolo.
São elas,Barolo, Castiglione Falleto,Serralunga d’Alba, La Morra, Monforte D’Alba, Roddi, Verduno, Cherasco, Diano D’Alba, Novello e GrinzaneCavour .
Destas onze cidades, cinco delas são consideradas mais importantes, Barolo, Castiglione Falletto, La Morra, Serralunga D’Alba e Monforte D’Alba.
Nesta região, fria e montanhosa, a uva amadurece um pouco mais tarde. A colheita é feita no mês de outubro e início de novembro, quando já está frio e com muita névoa (nebbia).
Daí o nome da casta, nebbiolo.
Um outro dado muito importante. Só é reconhecido como Barolo, o vinho produzido nas onze cidades mencionadas, com uvas colhidas em vinhedos plantados com face sudeste, sul e sudoeste, no máximo a 540 metros de altitude.
Ou seja, recebem sol, de frente, o dia inteiro.
Isso faz com que a produção do vinho Barolo seja relativamente limitada.
A produção e a classificação recebem o selo de aprovação de Denominação de Origem Controlada e Garantida – DOCG.
Ao fundo La Morra |
Ao fundo Monforte D’Alba |
Ao fundo a cidade de Barolo | Ao fundo Serralunga D’Alba |
UM POUCO DE HISTÓRIA
Em 1807, a francesa Juliette Colbert (1785-1864) descendente direta de Jean-Baptiste Colbert, ministro das Finanças de Luiz XIV, casou-se com Carlo Tancredi Falletti di Barolo.
Muito dinâmica, religiosa e comprometida com as causas sociais, estabeleceu como objetivo melhorar as condições da sua comunidade.
Além das ações sociais, que envolvem atendimentos aos doentes e necessitados, buscou uma maneira de incrementar a economia da região.
Contratou um enólogo da Borgonha, Luis Oudart, com o objetivo de não só desenvolver a produção de vinhos de seus vinhedos como ensinar aos produtores locais as melhores práticas.
Giulia Colbert Falletti di Barolo, Marquesa de Barolo, como passou a ser conhecida, para dinamizar a economia local, iniciou paralelamente um trabalho de promoção para que o vinho fosse conhecido.
Uma das ações mais importantes foi enviar ao então rei da Itália, Carlo Alberto di Sardenha,325 garrafas do vinho, para que ele bebesse um a cada dia do ano. Como era muito religiosa, suprimiu os 40 dias da Quaresma.
Ao mesmo tempo, presenteou vários reis e nobres da Europa.
O vinho de Barolo passou a ser reconhecido como “o rei dos vinhos…o vinho dos reis”.
O reconhecimento foi tão grande que o rei Vittorio Emanuelle II contratou os serviços do enólogo Louis Oudart para iniciar uma produção de vinhos em suas propriedades em Serralunga D’Alba.
Em seguida, foi o Duque de Cavour que contratou esse mesmo enólogo para desenvolver a produção em suas propriedades em Grinzane Cavour.
Alinhamento na plantação dos vinhedos, aproveitando a topografia do local |
Giulia Colbert Faletti teve uma importante atividade social e humanitária.
Destinou parte de seu palácio em Barolo para ser utilizado como hospital e albergue aos mais necessitados.
Após sua morte, iniciaram uma ação para sua santificação, que, no entanto, ainda não aconteceu. Ela é reconhecida como Serva de Deus.
Depois do seu falecimento em 1864 e da Filoxera, a produção de vinhos em toda região estagnou.
Somente a partir de 1970, voltou a ter uma produção regular, com participação ativa da terceira geração dos proprietários das vinícolas.
O palácio em Barolo, que pertence hoje à Fundação Falletti, foi totalmente restaurado e abriga o Museu da Cultura do Vinho.
CLASSIFICAÇÃO DOS VINHOS
Esta é a classificação de Denominação de Origem Controlada e Garantida, pela ordem decrescente de qualidade: Barolo, Barbaresco, Nebbiolo, Barbera, Dolcetto.
Barolo é produzido 100% com uvas nebbiolo, plantadas em vinhedos face sudeste, sul, sudoeste, nas regiões demarcadas das onze cidades.
Nebbiolo é o vinho produzido com uvas de vinhedos desta mesma região, plantados com faces nordeste, norte e noroeste.
Barbaresco é o vinho produzido com uvas nebbiolo, na região demarcada de Barbaresco, a leste de Alba.
Barbera é o vinho produzido com uvas barbera e cujos vinhedos são plantados em todas as regiões.
Dolcetto é o vinho produzido com uvas do mesmo nome, dolcetto.
Barbera e Dolcetto são os vinhos mais populares e mais consumidos, do dia a dia.
O vinho Barolo, mesmo para a região, é considerado caro. Por ter uma produção limitada, é destinada uma parte ao consumo interno e exportações para Inglaterra e EUA. O Brasil importa e disponibiliza muito pouco.
Na região de ROERO, os tintos utilizam 95% uvas nebbiolo + 5% uvas arneis.
Brancos e espumantes são produzidos com 100% de uvas arneis.
Arneis é uma casta local.
Os solos das regiões do Barolo e Barbaresco são de calcário, pedra e argila.
Roero é uma região mais alta, com o solo mais arenoso, propício aos vinhos brancos.
Construções da região envoltas pelas extensas plantações de vinhedos |
ONDE SE HOSPEDAR
Em Alba há varias opções de hotéis.
Os vinhedos estão em media a 25 quilômetros.
Dá tranquilamente para visitar 3 a 4 vinícolas em um dia.
O único senão é o trânsito de sair e entrar na cidade.
Mas, como a cidade é de porte médio, não há grandes problemas.
A cidade tem uma variedade boa de restaurantes e lojas.
A outra opção é se hospedar em um hotel ou agroturismo no meio dos vinhedos.
Todas as onze cidades que compõem a região demarcada do Barolo têm essas opções de hospedagens.
Mas as cinco mais importantes têm mais opções.
A região é formada por colinas e morros, e é muito bonita.
Como meu interesse principal era visitar vinícolas, escolhi me hospedar na cidade de La Morra, no alto de uma colina, com um visual magnífico.
Na entrada da cidade de La Morra está o Corte Gondina – Boutique Hotel
Para contatá-los utilize o e-mail: info@cortegondina.it
Para conhecer visite o site www.cortegondina.it
Simples, tranquilo, ótimo serviço, quartos amplos e confortáveis e com um café da manhã muito bom.
O proprietário, Bruno Viberti, é muito atencioso.
La Morra fica a cinco minutos de carro de Barolo, e muito próximo de todas as outras cidades da região.
Há restaurantes em quase todas. Como não são muitos, recomendo fazer reservas para o jantar.
Quando contatei o hotel Corte Gondina solicitei que indicassem um guia para fazer as reservas e nos acompanhar nas visitas às vinícolas.
Ganha-se tempo, pois muitas vezes somos atendidos com prioridade e atenção.
O guia que nos acompanhou, Davide PASQUERO, tem experiência de ter trabalhado no Vale de Napa – EUA, Bordeaux e Borgonha na França. Conhece tudo da região do Barolo, sabe muito de vinho e tem ótimo papo.
Para contatá-lo, utilize o e-mail info@terroirselection.com
Ele tem um site www.terroirselection.com
Também oferece um Bike Tour e vendas de vinhos de vários produtores.
Programamos uma tarde e noite para visitar e jantar em Alba.
Os vinhedos da região, com os espaçamentos de acesso entre suas plantações | |
VISITAS ÀS VINÍCOLAS
A grande maioria das vinícolas desta região começou a novamente produzir, vender e exportar vinhos, regularmente, a partir de 1970.
Foi quando a terceira geração de proprietários, melhor preparada, assumiu o controle das vinícolas.
Em muitos casos, a grande propriedade foi repartida entre os herdeiros, e cada um decidiu produzir o seu próprio vinho.
E é por essa razão que no Barolo existem muitos pequenos produtores, com produções limitadas, em função do terroir exigido, fazendo com que este vinho seja raro e caro.
Tudo isso coincidiu com o crescimento do consumo de vinho em todo o mundo a partir dos anos 70.
Visitamos várias vinícolas e a maioria está comprometida com a qualidade e com a marca Barolo, que consideram de muita valia.
Excepcionalmente a vinícola VIETTE, na narrativa de sua história, recua até o século XIX.
Eles mantêm o edifício antigo como atração, praticamente dentro da cidade Monforte D’Alba,
Com maquinários e mobiliários da época.
O tour, conduzido por Elena Penna Currado, foi muito instrutivo e a degustação divertida e saborosa.
Com Elena Penna Currado na Viette | Com Karin Holzmann na Sandrone |
Visitamos a CONTERNO FANTINO Azienda Agrícola em Monforte D’Alba, onde fomos muito bem recebidos pela Lara Rocchietti.
Na Cantina Histórica LUCIANO SANDRONE, a recepção foi da Karin Holzmann.
Quando visitamos a MARZIANO ABBONA em Dogliani foram a recepcionados pela filha do proprietário Chiara Abbona
Visitamos ainda a AZIENDA AGRICOLA AGRITURISTICA FRATTELLI REVELLO em La Morra, e GIANFRANCO ALESSANDRIA em Monforte D’Alba.
Todos produzem Barolo, Nebiollo, Barbera e Dolcetto.
Com Lara Rocchiett na Conterno Fantino | Com Chiara Abbona na Marziano Abbona |
Uma das mais importantes GAJA apesar de estar fisicamente localizada na região do Barbaresco, como tem vinhedos, na região do Barolo, dentro das condições exigidas pelo DOCG, pode produzir vinhos com a marca Barolo.
Os vinhos GAJA estão entre os mais caros e há grande disponibilidade nas lojas locais.
Para visitá-los é preciso reservar com antecedência e cobram € 300 por pessoa pela degustação. Segundo informam, esse dinheiro é destinado à caridade.
Acredito que não têm muito interesse em receber visitantes.
Detalhamento das cores das folhas em videiras da região |
Pela localização, para visitar a região do Barolo o ideal é fazer uma programação conjunta com uma viagem ao sul da França, como fizemos, ou então, com Milão, ou ainda visitando a Toscana, Florence, Siena, Montepulciano, Montalcino.
A região do Barolo fica também a duas horas da belíssima Cinqueterre.
Com Ruth Assumpção e Davide Pasquero, jantar em Alba, degustando um Barolo |
Se desejar alguma ajuda ou dica na programação, contate-me:miltonassumpcao@terra.com.br |
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