SOBRE UVAS, VINHOS E HISTÓRIA… TOSCANA, ITÁLIA.

10 nov 2016 às 12h05

A Itália é um país pequeno, mas muito lindo, dividido em regiões, cada qual com sua geografia, clima e características próprias. Regiões como Lazio, Úmbria, D’Abruzzo, Veneto e Piemonte possuem atrações culturais e turísticas diversas e especiais.

Toscana é uma região, no centro da Itália, rica em história, artes, turismo, uvas, queijos e vinhos.

Mapa da Toscana

O desenvolvimento desta região está ligado à história da civilização etrusca, aos romanos, ao Renascimento no final da Idade Média, às artes, à cultura, ao turismo e à produção, principalmente, de vinhos.

Os Etruscos e os Romanos

Há registros da civilização etrusca desde 1700 a.C. Eles dominaram toda a Toscana e parte da Úmbria, Lazio, incluindo algumas ilhas no Mediterrâneo, como a Ilha de Elba. Eram muito evoluídos. Foram os primeiros a dominar a extração e utilização do minério de ferro.

A maioria das cidades importantes da Toscana foi construída pelos etruscos. Volterra era a capital, por ter minas de ferro, sal e alabastro. A partir de 283 a.C., aliaram-se aos romanos e com o tempo foram incorporando sua cultura. Estes, por sua vez, aprenderam a dominar a utilização do minério de ferro na construção de armamentos e artefatos de guerra e tornaram-se poderosos. As armas de bronze utilizadas pelas outras civilizações eram mais frágeis e se rompiam nas batalhas.

Durante a aliança, dois generais etruscos comandaram legiões romanas. Aos poucos a civilização etrusca foi sendo absorvida pela cultura romana e desapareceu. O alfabeto, semelhante ao grego, nunca foi decifrado. Sua história ficou sem registros, perdida no tempo, restando os cemitérios, as tumbas, os sarcófagos e museus. Os mais importantes ficam em Chiusi, Cortona e, principalmente, Volterra.

Os etruscos já produziam vinhos quando da aliança com os romanos. Coube a estes incrementar a qualidade. A uva Sangiovese, casta principal dos vinhos da Toscana, talvez tenha sido trazida pelos romanos de suas conquistas no Oriente Médio. Existe uma teoria que tenha sido trazida por Anibal, o Conquistador. O nome Sangiovese foi dado pelos romanos, e significa sangue de jovem. Ao espremer as uvas nas mãos acentuava a cor vermelha. Era também chamada de sangue de Júpiter – sangue dos Deuses.

Objetos, Sarcófagos e Tumbas Etruscas

VIA FRANCÍGENA NA TOSCANA

É o caminho que foi utilizado nos séculos XI e XII pelos Cruzados vindos da Inglaterra e França com destino a Roma e depois seguindo de barco até a Terra Santa. O início oficial era na Catedral de Canterbury, Inglaterra. Passava por várias regiões da França, entrava na Itália pelos Valle d´Aosta e Monginevro no Piemonte, depois pela Toscana e seguia até Roma. Na Segunda Cruzada, o Rei Ricardo Coração de Leão da Inglaterra, o Rei Luiz VII da França e o Rei Conrad III do Sacro Império Romano-Germânico encontraram-se em Vézelay, na França, e após terem sido abençoados pelo frade Bernardo de Claraval, depois canonizado São Bernardo, seguiram pela Via Francígena até Roma e em seguida à Terra Santa.

Na Idade Média, passou a ser o caminho utilizado pelos peregrinos para ir até Roma visitar os túmulos de São Pedro e São Paulo. Várias aldeias e cidades foram se formando às suas margens, e eram pontos de parada e descanso dos viajantes. Muitas delas, que tiveram seu auge na época das Cruzadas, foram reativadas na Idade Média pela passagem dos peregrinos.

San Gimignano, Monteriggioni, Montalcino e Siena são algumas por onde passava a Via Francígena. Ainda hoje são os pontos de parada mais importantes dos peregrinos. Em San Gimignano as duas principais ruas que cortam a cidade, a Via San Matteo e Via San Giovanni fazem parte da Via Francígena.

Em Monterregioni, ela passa dentro da fortaleza, ligando as duas entradas, uma em direção a Siena e outra a Florença. Tem seu nome por vir da França. Não tem o mesmo apelo religioso e místico do Caminho de Santiago de Compostela, mas é ainda muito utilizado por viajantes que a percorrem a pé, de bicicleta e a cavalo.

Vários trechos mantêm ainda os calçamentos de pedras da época.
Nas rodovias e nas cidades há várias indicações da Via Francígena.

No site oficial www.viafrancigena.org você encontra indicações do mapa, itinerários, acomodações e agências que oferecem tours acompanhados.

Alguns peregrinos preferem experimentar e caminhar por pequenos trechos, por exemplo, de San Gimignano a Monterrigioni. Em algumas partes há variações no trajeto. O caminho se subdivide, e o peregrino pode optar pela rota que achar mais interessante.




Trechos da Via Francígena em Montalcino, Buoconvento e Monterregioni


Rota completa da Via Francígena

FLORENÇA

Florença é a principal cidade da Toscana e a capital do Renascimento. A cidade tem muitas atrações culturais, diversos museus, igrejas, pontes e a magnífica escultura de Davi, de Michelangelo. Consultando os diversos guias de turismo, tanto impressos como na internet, vai ser fácil fazer uma programação de passeios. São muitas as opções e atrações, mas eu destacaria duas delas que recomendo.

A primeira é a Basílica de Santa Croce, transformada em Panteão, onde estão sepultados Galileo Galilei, Nicolau Maquiavel, Michelangelo Buonarroti, Leonardo Bruni, Guglielmo Marconi, Gioacchino Rossini e Dante Alighieri, entre outros. A segunda é o Museo Galileo – Instituto e Museo di Storia Del La Scienza –, com espaços dedicados às descobertas de eletricidade, eletromagnetismo, química, navegação e astronomia. Como destaque, uma sala dedicada a Galileo Galilei, com seus telescópios, lunetas, mapas e outros objetos utilizados em suas pesquisas e descobertas do universo… Imperdível!

Florença foi locação de vários filmes, e destaco especialmente o segundo Hannibal, com Anthony Hopkins, cujas locações podem ser conferidas passeando pelo centro histórico.

Entre Florença e Siena está a região do vinho Chianti. De Florença saem tours diários para cidades medievais próximas, inclusive a região do vinho Chianti.

Igreja de Santa Croce Museo Galileo

Túmulo de Dante Alighieri Túmulo de Michelangelo

SIENA

Siena foi fundada pelos etruscos e durante muito tempo dividiu com Florença o domínio da região. Famosa pela Corrida do Palio e também pelo vinho Chianti.

Corrida do Palio é uma corrida de cavalos, que teve origem no século XVII e ocorre duas vezes ao ano, nos dias 2 de Julho e 16 de Agosto, na Piazza del Campo com a participação de cavaleiros representando 18 comunidades. Palio significa “estandarte”, e o ganhador, em vez de uma taça, recebe como premiação um estandarte pintado à mão com a imagem da padroeira Nossa Senhora da Assunção ou Provenzano.

Nos dias 2 de Julho e 16 de Agosto são as corridas finais, mas durante todo este período, os treinamentos e adestramentos dos cavaleiros, na Piazza del Campo,diversas atividades e solenidades, acabam movimentando a cidade. Independente de assistir às provas finais, ao visitar Siena neste período, o turista vive toda a movimentação e o clima criado pela Corrida do Palio.

Há agências especializadas para levar turistas, com locais reservados para participar e assistir às corridas finais. De Siena também saem tours diários para visitar cidades medievais próximas e a região do vinho Chianti.

Corrida do Palio Largada da corrida

Desfile das comunidades

Região do Vinho Chianti – A Lenda

Segundo a história ou a lenda, havia uma disputa entre Florença e Siena para a demarcação de suas fronteiras. Para resolver esta questão, criaram uma competição em que dois cavaleiros sairiam de suas cidades ao amanhecer, após o primeiro canto de um galo.

Siena escolheu um galo bonito, forte e muito bem alimentado. Florença por sua vez escolheu um galo negro, fraco e que foi deixado sem comer por três dias.

Com fome o galo negro de Florença cantou primeiro, e seu cavaleiro saiu em disparada em direção a Siena. Quando o galo bonito e forte de Siena cantou, já era tarde, seu cavaleiro correu pouco, porque já encontrou o cavaleiro de Florença a poucos quilômetros de Siena.

Assim, Florença ficou com a maior parte da região de Chianti, e o galo negro como símbolo.

Possível local de encontro dos cavaleiros

Galo Negro símbolo do Chianti

Há registro da produção de vinhos nesta região desde 1398 e, curiosamente, vinho branco.

Em 1716, o Duque da Toscana estabeleceu uma Lega Del Chianti compreendida pelas cidades de Gaiole, Castellina, Radda e Greve. Já então produzindo principalmente o vinho tinto.

Em 1932, sob a DOC – Denominação de Origem Controlada –, foram incluídas as cidades Barbenio Vale D’Elsa, Chiocchio, Robbiano, San Casciano in Val di Pesa e Strada.

Atualmente sob a DOCG – Denominação de Origem Controlada e Garantida – foram criadas sub-regiões, mantendo como cidades principais Gaiole, Radda, Castellina e Greve.

Greve in Chianti é hoje a maior de todas e considerada a capital da região. É uma cidade ainda pequena, com uma grande praça central, onde estão localizadas as lojas, restaurantes e o escritório de turismo. Ela se desenvolveu mais que as outras porque a rodovia SR222, que liga Siena a Florença, passa dentro da cidade.

Há uma autopista ligando Siena a Florença, mas para conhecer a região o melhor é utilizar a SR222. É uma rodovia de pista simples, cheia de curvas, subidas e descidas, que passa por dentro das vilas, cidades, vinhedos, e é muito bonita. A rodovia SR222 passa também dentro de Castellina-in-Chianti, uma vila de uma rua só, muito charmosa. É fácil de estacionar o carro e vale a pena parar para conhecer. As outras cidades Gaiole-in-Chianti e Radda-in-Chianti ficam a 8 e 10 quilômetros da SR222.

Há uma outra, rodovia direta de Siena para Gaiole, SP408, rodeada de vinhedos. De lá você pode também seguir para Radda, Castellina e Greve.

Vinhedos na região do Chianti

Quanto à hospedagem, onde ficar vai depender da programação da viagem e principalmente do interesse. Pode se hospedar em Florença ou Siena, aproveitar para conhecer as atrações das cidades e pegar um tour de um dia para visitar vinícolas. Tanto em Siena como Florença, há várias opções de tours diários.

De carro, o ideal é que já tenha feito reservas nas vinícolas. Ou então, ao chegar no hotel, verificar se o concierge ou a recepção podem marcar.


Greve in Chianti

Se o interesse for grande por vinho, o ideal é se hospedar pelo menos duas noites em Greve in Chianti. Há várias opções de hotéis e agroturismos. Há três castelos belíssimos muito visitados pelos turistas que, além da visita e da degustação, também oferecem acomodações de hotel. São muito especiais, porque são históricos.

O Castelo da Monna Lisa Castelo da Família Gherardini-Vignamaggio – fica muito próximo do centro de Greve e segundo a lenda foi ali que nasceu Lisa Gherardini, imortalizada na pintura La Gioconda por Leonardo Da Vinci. Acreditam que foi neste castelo que Da Vinci pintou o famoso quadro.

Você pode reservar um tour para simplesmente visitar o Castelo, provar os vinhos ou se hospedar. www.vignamaggio.com

Castelo da Monna Lisa – Vignamaggio

Com Emiliano Frilli – Vignamaggio

O Castelo Vicchiomaggio fica também muito próximo, ao norte de Greve, em direção a Florença, na vila de Greti, pela SR222, no topo de uma colina e rodeado de vinhedos. Há tours de visitação e degustação em poucos horários. O tour das 11h30 inclui visitação, degustação dos vinhos combinados com um almoço no salão principal do castelo. Vicchiomaggio é também hospedaria.

Há duas atrações a mais no castelo. Foi cenário do filme Much Ado About Nothing Muito Barulho por Nada”, baseado na comédia de Shakespeare, com Emma Thompson, Kenneth Branagh e Keanu Reeves.

No hall de entrada, há uma reprodução do quadro La Gioconda. Há registros de que Leonardo Da Vinci se hospedou neste Castelo e pode ter sido ali que pintou parte da obra. Isto porque no La Gioconda há o desenho de uma estrada sinuosa. Olhando do jardim do castelo há realmente uma estrada sinuosa muito parecida com a pintura de Da Vinci.

www.vicchiomaggio.it

Com Nadia – Castelo Vicchiomaggio

Terraço do filme Muito Barulho por Nada

Quadro La Gioconda

Estradinha sinuosa do quadro

O Castelo Verrazzano construído em 1170 pertenceu ao nobre e navegador Bernardo da Verrazzano. Em 1524, empreendeu junto com o rei Frederico I da França uma viagem marítima à América, que havia sido descoberta em 1492 por Cristóvão Colombo. Coube a ele “descobrir” a costa americana, da Carolina do Sul até o Canadá.

O reconhecimento veio em 1964 quando foi dado seu nome à Ponte Verrazzano, que liga Staten Island ao popular bairro do Brooklin em Nova York, por ter sido o primeiro europeu a navegar as costas da ilha de Manhattan e o Rio Hudson. Em 1528, empreendeu uma nova viagem à América, da qual não regressou. Acreditam que tenha sido aprisionado com toda sua tripulação e devorado por canibais.

Este castelo é muito procurado por turistas e tem uma programação de visita e degustação de vinhos contínua. É também hospedaria. Neste castelo, além do vinho Chianti de ótima qualidade produzem um Vinagre Balsâmico – Aceto– de uma qualidade extraordinária. O vinagre é colocado em grandes barricas de carvalho e fica maturando por 8 anos. Neste período, há uma perda de 85% do líquido, que então é transferido para pequenas barricas de carvalho por mais 2 anos, ou seja, um total de 10 anos de maturação. Por todo este tempo e cuidado, o preço de um frasco pequeno é de Euros $ 48,00. Na prova dos vinhos, você pode provar uma colherinha de café deste líquido precioso.

www.verrazzano.com

Com Matteo Vanoni no Castelo Verrazzano

Adegas seculares no castelo

Secagem de uvas brancas para licores

Válvula de escape de gases dos tonéis criada por Leonardo da Vinci

Recomendo fazer reservas com antecedência nos três palácios, para as visitas, degustações e hospedagem. Os sites são muito bem desenhados e muito fáceis de interagir. Eu recomendo fortemente visitar estes palácios. Os guias são muito bons, e é um passeio ótimo.

Há também várias opções de hospedagem, mais simples, mais baratas e com uma qualidade ótima. Muito próximo de Greve há os agroturismos Il Santo, Patrizia Falciani e Belvedere. São todos espaçosos, super tranquilos, no meio dos vinhedos, com chalés independentes. Todos eles com acomodações que incluem cozinha completa para que os hóspedes façam o próprio café da manhã. Ao fazer o check in, você recebe as chaves das acomodações e fica por conta própria. A segurança é total. Na cidade há também várias opções de hotéis de todos os níveis.

Na praça principal de Greve in Chianti há uma grande loja/armazém com uma variedade enorme de vinhos, queijos, presuntos, salames, pães e outras iguarias.

A região de Chianti é cheia de colinas e pequenos morros. O TERROIR desta região apresenta um solo de argila e calcário. Há várias áreas de matas que tornam o clima mais úmido. Mesmo assim é quente durante o dia, e a temperatura cai bastante à noite.


CHIANTI TRADICIONAL – GRAN SELEZIONE – RISERVA – CLASSICO – IGT

Chianti Tradicional é aquele com a garrafa em formato arredondada revestido com palha. Algumas vinícolas ainda produzem, para o turismo. Na época do seu lançamento, foi considerada a garrafa padrão obrigatória. A palha foi incluída porque o vidro era branco transparente e a claridade prejudicava a longevidade do vinho. O formato arredondado, no entanto, causava problemas para os despachos e a armazenagem. Aos poucos, pelas exigências de padronização do mercado nacional e internacional, foram substituídas por garrafas com vidro mais escuro e pelos formatos padrões utilizados em todo o mundo.

Garrafas do vinho Chianti Tradicional

Gran Selezione, Riserva e Classico são vinhos produzidos dentro da DOCG, que é composta de quatorze municípios. Obrigatoriamente, os tintos devem ter 80% de uva Sangiovese e 20% de outras castas, que podem ser Canaiolo, Colorino, Cabernet Sauvignon ou Merlot.
O Classico fica em barris de carvalho por 12 meses, o Riserva, de 18 a 24 meses e o Gran Selezione, acima de 24 meses. Isto não é uma regra rígida, depende da decisão do enólogo, que acompanha a fermentação e maturação do vinho. Após ficarem nos barris, fermentam ainda um tempo nas garrafas antes de ir para o mercado. Os Chiantis Classico, Riserva e Gran Selezione levam o selo vermelho, com o galo negro em dourado.

Os tintos IGT Indicazione Geográfica da Toscana–, produzidos nas sub-regiões ou fora da região demarcada, podem utilizar 50% de Sangiovese e completar com as outras castas.

Os vinhos brancos são produzidos com as uvas Trebbiano e Malvasia.

Na região há aproximadamente 500 produtores de Chianti. Estes são alguns dos principais produtores que recomendo visitar: Azienda Agricola Querciabella, Antinori, Brancaia, Barone Ricasoli, Il Molinodi Grace e Castello di Volpaia.

Em Greve in Chianti, o Consorzio del Vino Chianti Classico controla a qualidade e quantidade da produção dos vinhos desde 1924. Algumas vinícolas estabeleceram uma produção média de uma garrafa para cada cepa de uva.

Uva Sangiovesi e Vinhedos em Montepulciano

MONTEPULCIANO

Não há registros históricos precisos sobre sua fundação. É certo, no entanto, que foi uma aldeia etrusca, e que se desenvolveu a partir da dominação dos romanos. Fica no alto de uma colina e é totalmente rodeada de muralhas, que podem ser vistas de muito longe.

Circundando as muralhas, a vista dos vales ao seu redor é também muito bonita. A Porta principal de entrada na cidade é pela estrada que vem de Sinalunga. Ao atravessar as muralhas, inicia a rua principal, a Via di Gracciano-nel Corso. Ali estão restaurantes, butiques, bazares, lojas para degustação e compra de vinhos, queijos, algumas igrejas e bancos.

Já no início no número 82, há uma atração imperdível, a Azienda Agrícola e Vinícola ERCOLANI, um grande armazém para degustação e compra de vinhos, queijos, óleos e outras iguarias. Mas a atração maior é que esta loja está sobre uma Citta Sotterranea. Descendo as escadas, há uma série de corredores, túneis, salas e tumbas, que fazem parte das ruínas da cidade antiga dos etruscos. É considerado um museu etrusco. A entrada é gratuita, e funciona o dia inteiro. Ercolani é uma combinação perfeita de turismo gastronômico e cultural, imperdível!

É proibido entrar de carro pela entrada principal, a Via di Gracciano-nel Corso, mas circundando as muralhas há várias outras entradas que levam até estacionamentos dentro e próximo ao centro e à praça central, no topo da colina. É uma cidade que, pelo fato de estar construída no alto de um morro, possui ruas íngremes que requerem um certo esforço para caminhar. Mas vale muito a pena.

Em todas as ruas há lojas e restaurantes. O Caffe Poliziano é um dos lugares típicos obrigatórios. Tradicional, mantém ainda uma atmosfera romântica dos velhos tempos. É um lugar especial para café da manhã, happy hour, almoço e jantar. Se possível escolha uma mesa próxima da varanda. A vista é maravilhosa.
Na praça central, ao lado da catedral, está a casa do cardeal Roberto Belarmino, inquisidor de Galileo Galilei. Natural de Montepulciano, o cardeal Belarmino foi uma figura importante no período da Inquisição. Sua influência política colaborou para o desenvolvimento de Montepulciano no seu tempo. A catedral é simples e despojada.

No mês de Agosto, há a competição tradicional Corrida do Barril. Dois representantes de cada comunidade rolam um barril de vinho vazio rua acima até a praça principal no topo da colina. Os vencedores recebem como prêmio uma bandeira decorada com referências ao evento, que passa a ser orgulhosamente exibida na comunidade.

O Escritório de Turismo fica na praça da catedral, em frente ao Pozzo dei Grifi e dei Leoni. De lá saem pela manhã tours diários para visitar vinícolas. É preciso marcar com antecedência.
A cidade tem alguns hotéis dentro das muralhas, mas a grande a maioria está fora. Há uma grande opções de agroturismos, como o Etruria Resort & Natural Spa, muito próximo da entrada principal, tranquilo, ótimas acomodações e serviços.

Os filmes O Paciente Inglês e O Crepúsculo, série de vampiros, tiveram cenas rodadas nas ruas e na praça central.

Catedral de Montepulciano

Praça Central

Pozzo dei Grifi e dei Leoni

Placa na casa do Cardeal Belarmino

Interior da casa do Cardeal Belarmino

Visitas às Vinícolas

O ideal para visitar vinícolas em Montepulciano é através de um guia que pode fazer a marcação das visitas. Recomendo contatar o Emanuelle na info@tuscanytransfer.it
Há também uma opção econômica pelo tour diário do Escritório de Turismo, que sai todas as manhãs da praça central, em frente à Catedral. O tour sai logo cedo, e o ideal é que se reserve no dia anterior.
Já visitei vinícolas das duas maneiras e a melhor, sem dúvida, é o tour privado. Mesmo porque o guia já tem os contatos e o atendimento é diferenciado.

Visitamos, em uma manhã, três vinícolas muito importantes e de ótimos vinhos, Boscarelli, Poliziano e Valdipiatta. A visita e o atendimento na Boscarelli e Valdipiatta foram mais personalizados. Além da degustação pudemos visitar os vinhedos e toda a área industrial.
Poliziano é um dos mais importantes produtores do vino nobile. Moderna, rodeada de vinhedos, com um atendimento profissional. A visita ficou concentrada na degustação dos vinhos.

Existem hoje cerca de 70 produtores de vinho na região de Montepulciano. Um número relativamente pequeno para a importância do vino nobile.
Além das que visitei, recomendo Azienda Casale, Carpineto, Fassati, Castellani Filicheto, Fattoria del Cerro, Il Machione, entre outras.

Com Miriam Caporali na Tenuta Valdipiatta

Com Svetlana e funcionários na Valdipiatta

Com Francesca na Boscarelli

Propriedades e vinhedos da Tenuta Valdipiatta

Vino Nobile

O vinho tinto de Montepulciano é um dos mais antigos da Itália. Há referências a ele em citações de textos dos anos 789, 1350 e 1605. Era conhecido como o Vino Rosso de Montepulciano.
Em 1925, para uma Feira em Siena, o viticultor Adam Faretti chamou seu vinho tinto de Nobile, para destacar sua qualidade. O vinho foi premiado e, a partir daí, os produtores de Montepulciano começaram também a se referir a seus próprios vinhos como Nobile.

O Vino Nobile de Montepulcino é produzido com 100% de uva Sangiovese e fica 12 meses nas barricas de carvalho e um tempo mais nas garrafas, antes de ir para o mercado.
O Nobile Riserva, 100% Sangiovese, fica 24 meses maturando nas barricas e alguns meses mais nas garrafas, antes de ir para o mercado.
O Rosso de Montepulciano, um vinho jovem, é feito com Sangiovese, Canaiolo, Merlot ou Cabernet Sauvignon. Após a fermentação, fica ainda alguns meses maturando nas garrafas antes de ir para o mercado.
Novello
é um vinho frisante, rosé, produzido com uma uva local de mesmo nome, para ser bebido fresco, com sobremesa e frutas.
Na década de 90, foi reconhecido com DOC – Denominação de Origem Controlada – e o Consorzio del Vino Nobile de Montepulciano controla a qualidade e a quantidade produzidas. Em seguida, foi reconhecido com DOCG.

Muitos produtores preferem se referir à uva Sangiovese como Prugnolo Gentile. A justificativa é que a uva de Montepulciano é uma derivação da Sangiovese, mais leve, menos encorpada, mas com muito tanino e sabores que dão um toque mais refinado e elegante ao vinho.
Como tanto em Montalcino como na região do Chianti a referência à Sangiovese é muito intensa, referir-se à uva como Prugnolo Gentile acaba sendo uma maneira de destacar a uva de Montepulciano.

Na região, há várias aziendas familiares e empresariais. Com o crescimento do mercado mundial de vinhos, várias empresas estão adquirindo terras e comprando os negócios de pequenos e médios viticultores.

O Terroir de Montepulciano é seco, com pouca chuva, e solo composto de argila e granizo. Nas regiões mais baixas, o solo é composto de mais argila, com um pouco de pedras. O Verão com dias quentes e o Inverno com noites frias são próprios para o plantio de uvas de qualidade.

Uva Sangiovese e vinhedos em Montalcino

Montepulciano D’Abruzzo

Este vinho tem uma excelente distribuição no Brasil e é encontrado em vários pontos de vendas e supermercados a bons preços. D’Abruzzo é uma região importante da Itália, a nordeste de Roma, banhada pelo Mar Adriático, tendo como capital a cidade de L’Aquila. Há referências à produção do vinho em Abruzzo desde 247a.C.
O famoso general e estrategista Anibal, de Cartago, dominou por 10 anos esta região, e há registros de que oferecia a seu exército e a seus cavalos vinho D’Abruzzo. Acredita-se que a uva Montepulciano tenha sido trazida da Grécia.
Há uma polêmica entre D’Abruzzo e Montepulciano com relação à origem de suas uvas.

Em D’Abruzzo dizem que a uva Sangiovese é uma derivação da uva Montepulciano. Montepulciano diz exatamente o contrário. Os registros históricos, no entanto, atestam que há citações antigas do vinho de D’Abruzzo.
Toda essa polêmica acaba promovendo o consumo do vinho nessas regiões.

Mapa de D’Abruzzo

Vinhedos em D’Abruzzo

L’Aquila, capital de D’Abruzzo

Vinho Montepulciano D’Abruzzo

PIENZA

Perto de Montepulciano, a 20 quilômetros a oeste, fica a cidade de Pienza, que pelo desenho e urbanismo foi considerada a cidade ideal do Renascimento.
É reconhecida nacional e internacionalmente pelo queijo Pecorino di Pienza.
Como fica no caminho de Montalcino, vale muito a pena parar para visitar. Leva no máximo de duas a três horas. É praticamente só uma rua, com lojas, restaurantes e muita degustação do famoso Pecorino.
É proibido circular de carro dentro das muralhas. Há estacionamentos a sua volta.
Como fica no alto de uma colina, a vista do vale é muito bonita.
Em um dos cantos da muralha, há um mirante dedicado aos namorados. Chega-se lá por ruas estreitas. Casais ainda hoje trocam juras de amor na Via del Bacio e Via Dell’Amore.

Via dell’ Bacio e dell’Amore in Pienza

Para quem aprecia queijo Pecorino, no caminho de Montepulciano a Pienza, há uma propriedade rural com criação de ovelhas, produção e venda de queijo pecorino, geléias, mel e outros produtos locais. Há uma placa grande à direita da estrada indicando o local, Pecorino di Pienza – CUGUSI. Fazem embalagem climatizada para viagem.

Pecorino é o queijo feito com leite de ovelha (pecora).
A vista de Montepulciano de lá é muito bonita.

Montepulciano

Placa indicativa de venda do Pecorino

MONTALCINO

Famosa pelo vinho Brunello, foi fundada pelos etruscos em 814a.C. Montalcino desenvolveu-se nos séculos XI e XII por fazer parte da Via Francígena e ser um ponto de parada e descanso dos cruzados em direção a Roma e à Terra Santa.
Com o término das Cruzadas, Montalcino, como várias outras cidades, entrou em decadência. Na Idade Média, a Via Francígena foi reativada com a passagem dos peregrinos que vinham da França, Inglaterra e Holanda em direção a Roma para visitar os túmulos de São Pedro e São Paulo.
A cidade é pequena, medieval, com prédios e construções muito bonitas, ruas estreitas com lojas, butiques, restaurantes, igrejas e muitos pontos de venda e degustação de vinhos.
No centro da cidade, há uma grande loja Enoteca di Piazza com vinhos de praticamente todas as vinícolas a preços muito bons. Os atendentes conhecem tudo sobre Brunello para bem recomendar. O melhor lugar para comprar um Brunello é na própria vinícola. Se for comprar na cidade, a Enoteca é a melhor opção.
A cidade fica em uma colina e pode ser vista de muito longe. No alto, há um castelo em ruínas, de onde se tem uma vista bonita de todo o vale.

Em Montalcino há uma competição em Agosto de Arco e Flecha, que é realizada dentro do castelo. Quatro comunidades indicam seus representantes. No sábado, ocorrem as preliminares. O alvo é colocado a uma primeira distância, e depois vai recuando à medida que os competidores vão acertando ou errando. Os que erram vão sendo eliminados. Ao fim sobram os dois últimos, o vencedor e o segundo colocado das preliminares vão para as finais no domingo. O vencedor da preliminar escolhe a primeira distância, e partir daí o alvo vai sendo afastado até que saia um vencedor. Ele ganha, em nome da comunidade, uma bandeira decorada e vinhos Brunellos.

Próximo ao centro, há um museu histórico e uma igreja recentemente restaurada, que foi locação de uma cena do filme Romeu e Julieta, de Franco Zeffirelli.
O filme O Gladiador, com Russel Crowell, teve cenas externas filmadas na região.

Montalcino

Mapa das vinícolas

Via Francígena em Montalcino

Vinhedos em Montalcino

Vino Brunello di Montalcino

Montalcino, assim como algumas cidades da região, vivia no século XIX uma certa estagnação com a redução do movimento da Via Francígena. Nesse período, já se produzia vinho tinto para consumo local.
Em 1850, Clemente Santi, químico e farmacêutico, iniciou sua produção de vinho a partir da seleção de uvas de uma casta local denominada Brunello, chamada assim por sua cor vermelho-escura. Em 1865, apresentou ao mercado a primeira garrafa de seu vinho, com a marca Brunello di Montalcino.
Em 1870, ganhou um importante prêmio na Feira de Siena e seu vinho ficou conhecido.
Em 1879, o Consórcio do Vinho de Siena, concluiu que a uva chamada de Brunello era uma derivação da Sangiovese, e passou a exigir que os vinhos produzidos em Montalcino tivessem como referência a casta Sangiovese. Decidiram então manter o nome Brunello como sendo a marca do vinho.
Por volta de 1888, eram produzidos uma média anual de 900 garrafas, e o vinho era raro e caro. Assim continuou nos anos seguintes.
Os pioneiros foram Biondi-Santi, Fattoria dei Barbi, Padelletti e Constanti.
A produção sofreu muito com a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Neste período, a cidade empobreceu. A partir de 1945, com o término da Segunda Guerra, a produção do Brunello voltou, devagar. Muito pequena, era difícil conseguir encontrar e comprar uma garrafa. O preço era muito alto.
À medida que a demanda aumentou, a produção foi crescendo e já havia cerca de 60 produtores em 1968, quando então foram agraciados com o título de DOC – Denominação de Origem Controlada. Em 1980, recebeu a classificação de DOCG – Denominação de Origem Controlada e Garantida.
A partir de 1995, com o crescimento e consolidação do mercado de vinhos em todo o mundo, viticultores, produtores, investidores e artistas escolheram Montalcino para investir.

Neste período, houve um grande incremento com a vinda para a região do Castello di Banfi.
O Brunello já era reconhecido como um vinho da mais alta qualidade.

Em 1969, o presidente da Itália em um jantar na Embaixada Italiana de Londres em homenagem à Rainha Elizabeth II, ofereceu a ela e a seus convidados um Brunello Biondi-Santi Riserva 1955.

Clemente Santi

Vinhedos em Montalcino

Biondi-Santi Riserva 1955 foi considerado pela Wine Spectator um dos 12 Melhores Vinhos do Mundo do século XX.
Em 1986, um Brunello Casanova di Neri ganhou o Grand Prix e Medalha de Ouro em um evento em Bordeaux.
Desde então, o reconhecimento mundial aconteceu naturalmente. Vários outros produtores de Brunellos receberam prêmios. A marca e a qualidade do vinho se consolidaram.
Hoje há cerca de 250 produtores de Brunellos.
Segundo especialistas, o pico de qualidade de um Brunello é atingido após 12 anos da safra, que é identificada na garrafa. A partir daí, a qualidade pode cair gradativamente. Você pode beber e apreciar a qualquer momento, mas o melhor sabor é por volta dos 12 anos.
São considerados, junto com os Barolos, os vinhos mais longevos do mundo.

A altura máxima para os vinhedos nesta região deve ser de 600 metros do nível do mar. O solo é de argila e calcário. Clima seco, com pouca chuva, quente durante o dia e frio à noite. O mesmo terroir de Montepulciano, com uma pequena diferença, Montalcino fica relativamente mais próxima do Mediterrâneo.

Triagem manual das uvas na Poggio Antico

Triagem manual dos cachos na Poggio Antico

Variedades dos Vinhos

Há alguns anos, dentro de todas as obrigatoriedades da produção do Brunello era exigido que o vinho ficasse em barricas de carvalho por 45 meses.
Aos poucos, pelas exigências do mercado e com o cumprimento da manutenção das quantidades e qualidades, os produtores conseguiram reduzir para 36 e depois 24 meses na barrica e mais 12 meses na garrafa.

O Brunello di Montalcino é produzido com 100% de uva Sangiovese e deve ficar em barris de carvalho no mínimo 24 meses e mais 12 meses nas garrafas, antes de ir para o mercado.
Brunello di Montalcino Riserva
fica no mínimo 36 meses em barris de carvalho e mais seis meses na garrafa.
Rosso di Montalcino
fica obrigatoriamente 12 meses em barris.
Há vinícolas que, em anos especiais, mantêm o vinho 45 meses em barris de carvalho.

Apesar de ser reconhecido pelo vinho tinto, produzem um ótimo vinho frisante, licoroso e aromático, Moscadello di Montalcino. No passado, utilizavam a uva moscadella que foi dizimada pela Filoxera. Hoje é produzido com a casta moscato bianco.
Sant’Antimo
é um vinho local, mais barato, que é produzido com Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir ou a local Novello.
O vinho branco, com Chardonnay.

Tonéis de inox prontos para fermentação – Poggio Antico

O Biondi-Santi continua um ícone e é, seguramente, o mais famoso de todos. Sua produção passou de geração por geração. O nome Biondi foi adicionado à marca quando a filha de Clemente Santi casou-se com Jacopo Biondi. O neto Ferrucio Biondi-Santi deu um grande impulso na produção no século XIX. As gerações seguintes mantiveram o nível e até melhoraram. O Brunello Biondi-Santi Riserva 1970 é considerado um ícone da Enologia Mundial.

Seus vinhedos Il Greppo são considerados um dos melhores terroirs do mundo.
Nos pontos de vendas e lojas, há Biondi-Santi de vários anos e vários preços, a iniciar por Euro$ 90,00 a garrafa.
Hoje Poggio Antico, Casanova di Neri, Fattoria dei Barbi, Castello di Banfi, Constanti, Castello Tricerchi, Podere Le Ripi tem seus vinhos sendo reconhecidos como da mais alta qualidade em todo mundo.

Todas estas vinícolas têm recebido premiações nacionais e internacionais, regularmente.

Entrada da Biondi-Santi

Vinhedos da região

Visitas às Vinícolas

Visitar vinícolas em Montalcino requer uma programação muito especial, isso porque elas ficam em quatro estradas que saem da cidade em diferentes direções. E não há estradas menores ou vicinais interligando-as.
Então, se for visitar, por exemplo, a Poggio Antico e Castello di Banfi, que ficam na estrada para o sudoeste, e depois quiser ir a Fattoria dei Barbi, Biondi Santi e Museu do Brunello, que ficam a sudeste, é preciso voltar a Montalcino. As distâncias são pequenas, mas o passeio requer planejamento.
Das primeiras vezes que fui por conta própria, visitei a Castello di Banfi, Poggio Antico e Fattoria dei Barbi. Acabou sendo mais degustação e compras. A Fattoria dei Barbi tem um ótimo restaurante. O Castello di Banfi tem agroturismo e hospedagem.

Nesta última viagem contratei os serviços de uma guia muito especializada, info@artemisiaviaggi.it ou nadiabindi@artemisiaviaggi.it. Nadia tem um ótimo relacionamento com todas as vinícolas. Fez uma programação muito dinâmica, visitamos cinco vinícolas em um dia, com direito a almoço em uma delas. Em todas, fomos recebidos de uma maneira muito especial.

Visitamos a Podere Le Ripi, que fica em uma vila próxima Castelnuovo dell’Abate, onde fomos recebidos pelo enólogo Sebastian Nasello. Essa vinícola fica na mesma estrada da Biondi-Santi, Fattoria dei Barbi, Museu do Brunello e da turística Abazzia di Sant’Antimo, um convento medieval.

Abadia de Sant’Antimo

Vinhedos da região

Em seguida, a Poggio-Antico, muito linda, fica em uma região alta, dos jardins avista-se o mar.
Como era época da colheita, havia uma atividade intensa. Visitamos todas as instalações e pudemos acompanhar o trabalho de seleção manual das uvas e a entrada nos tonéis de inox para a fermentação. A qualidade dos vinhos da Poggio Antico está ligada ao respeito que seus produtores têm por reconhecerem que o vinho tem uma natureza viva.

No Castello Tricerchi tivemos uma ótima surpresa. Participamos do almoço que os proprietários oferecem aos empregados que participaram da colheita. A degustação dos vinhos foi durante o almoço, comum delicioso penne ao pesto.

De lá fomos para a icônica Casanova Di Neri.
O nome está relacionado a uma casa nova da família Neri, que havia sido construída na época da instalação da vinícola.
Eles possuem vinhedos em várias regiões de Montalcino.
Casanova Di Neri fica bem próximo da entrada da cidade, na estrada para Pienza e San Quirico D’Orcia.

A última visita foi à uma vinícola pequena e familiar Villa Le Prata.
Após visitar as instalações e vinhedos,a degustação foi no casarão e residência da família.

Com Paola Gloder na Poggio Antico

Com Borjana Bosnjak na Casanova di Neri

Com Anna Vittoria Brookshaw na Villa le Prata

Com Mario Machetti no Albergo Il Giulio

Com Tommaso Squarcia e Nadia Bindi no Castello Tricerchi

Com Gianlorenzo Neri na Casanova di Neri

Biondi-Santi estava fechada por causa da colheita. Só iriam abrir para os visitantes após encerrarem todas as atividades do processo de vinificação. Pudemos conversar com funcionários que nos disseram que apreciam muito os brasileiros, principalmente depois que a novela Terra Nostra foi toda gravada no local.

Em Montalcino, ficamos no agroturismo Canalicchio di Sopra, que fica a 5 quilômetros da cidade, na estrada que vai para Siena. São poucos apartamentos, espaçosos, muito bem decorados, confortáveis, todos de frente para a piscina e os vinhedos. Servem um café da manhã simples. O atendimento é muito bom. A partir das 18 horas, o hóspede fica por conta própria.
Na porta do Canalicchio di Sopra passa a Via Francígena.
Há também uma boa opção de ficar em hotel dentro da cidade.
Uma das vezes, ficamos hospedados próximo ao centro no Albergo Il Giulio de propriedade de Mario Machetti, considerado um dos maiores conhecedores de Brunello. Um hotel simples, confortável, com bom preço, bom papo, uma adega muito especial e boas recomendações de visitas e compras.


San Giovanni D’Asso

Muito próximo de Montalcino está a cidade medieval de San Giovanni D’Asso famosa pela trufa branca (tartufo bianco).
Como Alba no Piemonte, recebe regularmente turistas interessados em conhecer e degustar esta iguaria.
A vila tem somente cerca 900 habitantes. Montalcino e San Giovanni estão discutindo a possibilidade tornarem-se um único município. Há inclusive a programação de um plebiscito para decidir.
A Festa da Trufa ocorre, como em Alba, na última quinzena de Outubro e na primeira quinzena de Novembro. Recomendo confirmar as datas exatas pela Internet.


Cidades Medievais na rota da Via Francígena

Já saindo de Montalcino em direção a Siena, a 20 quilômetros está a cidade de Buonconvento. Pequena, simples e medieval, era uma das importantes paradas dos peregrinos. Mantém ainda uma hospedaria para os peregrinos, a preços muito econômicos.
Próximo de Montalcino em San QuiricoD’Orcia há também em funcionamento uma hospedaria a preços simbólicos para os peregrinos.

Via Francígena em Buonconvento

San Gimignano foi fundada pelos etruscos em 300a.C. Hoje, tombada pelo Patrimônio Histórico, é uma dessas cidades que conservam ainda toda a magia do período medieval.
Em seu apogeu, chegou a ter 50 torres-casas, hoje são cerca de 14 torres.
A cidade se desenvolveu aos lados da Via Francígena. Era um dos locais mais importantes de parada dos cruzados e depois dos peregrinos.
As duas principais ruas – Via San Matteo e Via San Giovanni – são partes da Via Francígena.
No fim da Via San Giovanni, existe ainda uma hospedaria da época dos cruzados e dos peregrinos.
Em San Gimignano, é produzido o lendário vinho branco Vernaccia. Um dos mais antigos vinhos da Itália, citado por Dante Alighieri em sua obra épica A Divina Comédia, na parte do Purgatório, Canto XXIV.
É produzido hoje com a predominação das uvas Traminer, Moscato Bianco ou Malvasia, com 10% de Riesling ou Sauvignon Blanc. Harmoniza muito bem com peixes e carnes brancas.
O Museo del Vino Vernaccia abre de Abril a Outubro.
Fattoria San Donato e Vagnoni são dois bons produtores deste vinho.

San Gimigniano e o vinho Vernaccia

Monteriggioni, no topo de uma colina, foi uma importante fortaleza durante as disputas entre Siena e Florença. Estrategicamente localizada, era também um lugar seguro para descanso e pernoite dos cruzados e peregrinos.
A Via Francígena passa dentro da fortaleza ligando as portas em direção a Florença e em direção a Siena.
Atualmente, nos dois primeiros finais de semana de Julho, ocorrem as Festas Medievais com atrações, música, shows e personagens típicos.
Sugiro, ao programar sua viagem, confirmar antes as datas pesquisando na internet.

Monterregioni

Porta de entrada da fortaleza

Festa Medieval em Monterregioni

Volterra, a capital dos etruscos, foi fundada no século IV a.C. Localizada no centro da Toscana, era rica em veios metálicos, ferro, salinas e alabastro.
Os etruscos foram os primeiros povos a dominar a extração e utilização do ferro. Rodeada de muralhas, era uma cidade relativamente grande para aquela época. As ruas são estreitas; as construções, muito bem conservadas, igrejas, museus, hotéis, lojas, restaurantes. É, sem dúvida, uma cidade que, se puder, vale muito a pena conhecer.
O Museo Etrusco Guarnacci é um dos mais completos da Toscana.
Foi importante também durante a dominação dos romanos, e conserva ainda ruínas dessa época.

As festas medievais são realizadas desde 1398 e uma das atrações é a Corrida do Queijo pela Via Franceschini, em que competidores eleitos por sua comunidade rolam os queijos rua abaixo.
A cidade fica no alto de uma colina, mas dá para chegar de carro quase até o topo, onde há um grande estacionamento subterrâneo.
É uma cidade mais atraente que San Gimigniano, inclusive maior, com mais atrações históricas e uma variedade grande de lojas e restaurantes.

Volterra

Objetos de ferro forjados pelos etruscos

Sarcófagos do museu etrusco

Ruínas romanas em Volterra

ILHA DE ELBA

Muito conhecida por ter sido em 1814 o cativeiro de Napoleão Bonaparte por 10 meses, hoje faz parte da Toscana e está ligada ao município de Livorno.
Há várias barcas diárias que saem do Porto de Piombino em direção a Portoferrario, e que levam no máximo uma hora. O ideal é atravessar com o carro para poder circular melhor pela ilha, que é rodeada de praias belíssimas.
Em 1500a.C., os etruscos já extraíam e exploravam minério de ferro e comercializavam para todo o Mediterrâneo. A ilha é citada em textos gregos da época.
Na Ilíada e na Odisséia, de Homero, há referência a uma ilha no Mediterrâneo da qual dos barcos se avistava fogo no topo da montanha. Acreditam ser Elba, com os etruscos trabalhando o ferro nas fornalhas durante a noite.
Conhecida pelos gregos e cartaginenses, na mitologia grega é citada como sendo a ilha onde Jasão e os Argonautas passaram na busca pelo tosão de ouro.
Durante a dominação dos romanos, floresceu como fornecedora de matéria-prima para confecções de armamentos, o que lhes deu uma vantagem sobre povos que lutavam com armamentos de cobre.
As minas hoje estão desativadas, depois de terem sido bombardeadas na Segunda Guerra Mundial, mas há tours para visitação.

Praias da Ilha de Elba

Portoferrario

Portoferrario é a capital da ilha, voltada para o lado do continente. Movimentada pelo porto, é o centro de negócios. À sua volta, há praias com um mar azul e transparente do Mediterrâneo.
Capoliveri
, construída em 1000 a.C., é uma pequena cidade no interior da ilha, próxima das minas de ferro e que, apesar de ter hoje uma arquitetura mais medieval, guarda a história daqueles tempos.
Capolíbero, ou Capolivri,
como era conhecida até o século XIII,era uma espécie de cidade livre para pessoas que tivessem cometido algum delito e estivessem fugindo da lei no continente. Hoje a ilha vive totalmente do turismo, atraindo principalmente alemães, austríacos, nórdicos e, claro, italianos.

Aleatico Dell’ Elba é um vinho licoroso produzido com a uva aleática, secada ao sol, que harmoniza muito bem com doces, chocolates e frutas, principalmente o pêssego.
Elba produz vinhos tintos de muito boa qualidade. O solo é arenoso e granítico, o clima é seco, com umidade, maresia e ventos do mar. A maioria dos tintos é produzida com 80% de Sangiovese e 20% de Syrah. O Aleatico Dell’ Elba está dentro de uma DOC – Denominação de Origem Controlada. Duas marcas muito recomendadas são Aleatico Passito Dell’ Elba e Aleatico Sapereta Dell’ Elba. O Passito era o preferido de Napoleão Bonaparte.

Uva aleática ao sol

A Toscana é rica em história, beleza natural e vinhos da mais alta qualidade. Você pode iniciar uma viagem por Florença, Milão ou Roma, todas têm voos diários de várias partes do mundo. As cidades são próximas umas das outras, as estradas são pequenas, muito bem conservadas e com pouco movimento, o que facilita a circulação. Há várias opções de hotéis e agroturismo. É uma região muito linda.

Estou à disposição para dicas ou recomendações:
miltonassumpcao@terra.com.br

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